Uma nova fronteira para a agricultura começa a se desenhar no Brasil – a 600 km de altitude. Daqui a menos de dois anos, a Embraer deve colocar em órbita o primeiro nanossatélite desenvolvido no Brasil para fins comerciais.

Equipado com sensores de alta tecnologia e capaz de coletar uma quantidade massiva de dados, o satélite deve marcar a entrada da agricultura brasileira na era do Big Data e da internet das coisas – abrindo espaço para o surgimento de aplicações mais poderosas para o agronegócio.

Uma agricultura conectada e intensiva em dados pode levar a uma gestão mais racional do solo e de recursos naturais, com ganhos de produtividade para fazer frente à demanda por alimentos sem demandar uma grande expansão territorial.

O VCUB1 está sendo desenvolvido pela Visiona, uma subsidiária da divisão de defesa e segurança da Embraer.

Por meio de um acordo de cooperação, a Embrapa vai ajudar a identificar e a desenvolver possibilidades de aplicações para a montanha de dados que serão captados pelo satélite, que pesa apenas 10 quilos e dará uma volta ao redor da Terra a cada 90 minutos, coletando dados e imagens de qualquer ponto do país.

A Embrapa vai desenvolver algoritmos para o processamento das imagens espaciais e também estruturar a criação de bancos estratégicos de imagens.

Entre outras coisas, o VCUB1 vai dar ao agronegócio uma maior precisão no uso de defensivos e permitir identificar as áreas de maior produtividade, além de permitir levar a chamada internet das coisas (a comunicação entre máquinas) a regiões mais remotas ainda não alcançadas pela telefonia.

Uma joint-venture da Embraer (51%) com a Telebras (49%), a Visiona nasceu em 2012 para executar o programa de desenvolvimento do primeiro satélite geoestacionário brasileiro, o SGDC.

O satélite foi lançado no ano passado e hoje é utilizado para as comunicações estratégicas do governo brasileiro. O programa de quase R$ 2 bilhões ganhou impulso (e foi poupado do ajuste fiscal) depois das revelações de que a NSA  americana estava espionando a ex-presidente Dilma.

A Visiona foi a beneficiária das transferências de tecnologia durante o desenvolvimento do SGDC, e agora está aplicando esses conhecimentos no projeto do VCUB1.

O VCUB1 não será o primeiro nanossatélite brasileiro a entrar em órbita – há outros desenvolvidos em universidades, como o Itasat, do ITA – mas é o de tecnologia mais avançada e o primeiro desenvolvido pela indústria.

O investimento é de R$ 14 milhões, sendo R$ 4 milhões financiados pela Embrapii, a estatal de inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia.

João Paulo Rodrigues Campos, CEO da Visiona, vislumbra uma constelação de nove nanosatélites – o que permitiria fotografar e monitorar qualquer canto do Brasil com periodicidade diária. (Com dois satélites, a velocidade de coleta de dados dobra.) Os satélites não precisam ser da mesma empresa, mas precisam estar equipados com os mesmos sensores para poder captar o mesmo tipo de dado. A velocidade de lançamento dos satélites vai depender do apetite de dados aqui na Terra.

Além da Embrapa, a Visiona fez parcerias para desenvolver aplicações com o uso de nanosatélites com o governo de Santa Catarina e com o Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). Outras parcerias estão no pipeline.

A Visiona ainda é nano em termos de faturamento para a Embraer – com receitas recorrentes estimadas em R$ 15 milhões a R$ 40 milhões – mas com a venda da parte comercial para a Boeing, o negócio tende a ganhar relevância.