A Biomm fechou um acordo com a farmacêutica indiana Biocon para distribuir com exclusividade no Brasil um biossimilar do Ozempic — assim que a patente do medicamento criado pela Novo Nordisk vencer no final de 2026.
A Biomm não abriu os termos do contrato, mas tipicamente esse tipo de acordo envolve o pagamento de valores fixos ao longo dos anos, além de um compromisso de comprar uma quantidade X dos remédios.
A Biomm é uma de diversas farmacêuticas tentando capturar o potencial de mercado gigantesco das drogas chamadas ‘GLP-1’.
A semaglutida, a molécula do Ozempic, fatura mais de R$ 3 bilhões por ano no Brasil, segundo dados da IQVIA, enquanto a liraglutida, a molécula do Saxenda (outro remédio fabricado pela Novo Nordisk) fatura R$ 1 bilhão.
A principal diferença entre os dois é que a semaglutida pode ser aplicada apenas uma vez por semana, enquanto a liraglutida precisa ser aplicada diariamente. Ambos foram criados para o tratamento de diabetes, mas depois tiveram seu uso clínico ampliado para o tratamento da obesidade — onde eles realmente ganharam tração.
“Estamos vendo só a ponta do iceberg desse mercado,” o CEO da Biomm, Heraldo Marchezini, disse ao Brazil Journal. “Hoje todas as vendas são pagas pelos pacientes, então tem uma demanda reprimida muito grande, seja para o uso na obesidade, seja na diabetes.”
Segundo ele, o mercado deve se expandir de forma brutal conforme opções mais acessíveis chegarem às farmácias. Para se ter uma ideia, o tratamento com Ozempic sai hoje por cerca de R$ 1.000/mês — tornando-o inacessível para a vasta maioria da população.
A Biomm pretende entrar em breve com o pedido de aprovação do medicamento na Anvisa e, na sequência, pedir a aprovação do preço de venda (ainda não definido) na CMED, a câmara que regula os preços dos medicamentos. A Biocon também deve entrar com um pedido no FDA para aprovar seu medicamento nos Estados Unidos.
A expectativa do CEO da Biomm é que essas aprovações saiam próximas ao vencimento da patente de semaglutida que a Novo Nordisk tem no Brasil — o que está previsto para acontecer no último tri de 2026.
“No dia seguinte que expirar a patente, já queremos ter nosso medicamento no mercado,” disse Heraldo.
O CEO disse que há uma sinergia grande entre a semaglutida e o portfólio atual da Biomm, que é muito concentrado nas insulinas.
“A forma de produção da insulina e da semaglutida é muito parecida, então praticamente não teríamos que fazer nenhuma alteração grande na nossa fábrica [de Nova Lima] para produzir a semaglutida,” disse ele. “A formulação, embalagem, carpules, caneta… é tudo da mesma maneira que fazemos a insulina. Não temos um acordo de produção ainda, mas potencialmente podemos produzir aqui.”
Ele disse ainda que há uma sinergia na distribuição, já que os mesmos médicos que prescrevem a insulina são os que prescrevem a semaglutida.
A Biomm também está trabalhando para fechar um contrato para trazer um biossimilar da liraglutida para o Brasil e tem planos de ampliar seu portfólio com outros tipos de insulina — para além da insulina humana e da insulina glargina, que ela já tem hoje.
Outra novidade: a Biomm acaba de ganhar uma licitação com o Governo Federal para vender 2 milhões de frascos de insulina humana para o SUS nos próximos 12 meses, num contrato de R$ 34 milhões.
Para efeito de comparação, a companhia faturou cerca R$ 130 milhões no ano passado com cinco biomedicamentos.
Segundo Heraldo, a Biomm também está na fase final para entrar no PDP (Parceria para o Desenvolvimento Produtivo) — um programa federal de longo prazo no qual o Governo se compromete a comprar parte da produção de laboratórios locais.
Com a entrada neste programa, a expectativa é que as vendas anuais para o Governo Federal subam para 6 milhões de frascos, ou cerca de R$ 100 milhões.