O Grupo Casas Bahia reportou um terceiro trimestre com números assustadores — impactados pelos custos do plano de reestruturação que a empresa apresentou ao mercado em agosto e pela limpeza dos estoques.
O prejuízo líquido foi de R$ 836 milhões, quatro vezes maior que o do mesmo período do ano passado e pior do que as projeções do sellside, que esperava um prejuízo na casa dos R$ 600 milhões.
O EBITDA também ficou negativo em R$ 66 milhões, e o prejuízo antes dos impostos foi de R$ 1,3 bi, com o resultado financeiro contribuindo negativamente com mais de R$ 700 milhões.
A companhia já vinha sinalizando ao mercado que o buraco seria grande neste tri — mas dois fatores vieram pior que o esperado, e não estavam no modelo dos analistas.
A Casas Bahia havia dito que o impacto no resultado com a limpeza dos estoques das 23 categorias que ela decidiu descontinuar no 1P seria da ordem de R$ 200 milhões nesse trimestre — mas a empresa acabou tendo que dar mais descontos do que imaginava para vender os produtos, e o impacto final foi de R$ 309 milhões.
Além disso, a companhia fez uma provisão de R$ 100 milhões para a operação de cartões co-branded.
Essa provisão — que não tem efeito caixa — foi feita porque “esse é um negócio novo e os volumes estão abaixo do esperado,” o CEO Renato Franklin disse ao Brazil Journal. “Já mudamos os processos e isso pode melhorar, mas decidimos ser conservadores. Se melhorar no futuro, eu reverto essa provisão e teremos um impacto positivo.”
No trimestre, a empresa sofreu um impacto grande com os custos de reestruturação, essencialmente os gastos com as rescisões de funcionários demitidos e fechamentos de lojas. Combinados, esses custos reduziram o resultado em R$ 288 milhões.
“Tudo isso são one-offs e já resolvem o problema,” disse o CEO. “Queremos fazer tudo que gera write-off ainda este ano para limpar a casa e começar o ano que vem com uma empresa nova.”
Segundo ele, o quarto trimestre ainda terá alguns impactos do custo da reestruturação, mas numa magnitude menor. A limpeza dos estoques, por exemplo, já foi executada em cerca de 70%.
O Grupo Casas Bahia fechou 38 lojas no trimestre, de um total de 100 que podem ser fechadas. Segundo Renato, parte dos fechamentos pode ficar para 2024 porque a empresa quer aproveitar algumas lojas para a Black Friday e o Natal.
Apesar do cenário desafiador, a companhia conseguiu manter sua posição de caixa estável no trimestre, em R$ 2,8 bilhões. Isso teve a ver em grande parte com o follow-on que injetou R$ 620 milhões no caixa da varejista.
Esses recursos foram consumidos no trimestre pela queima de caixa operacional da empresa (de cerca de R$ 330 milhões) e pela perda de limites de CDCI com os bancos, o que gerou um consumo de caixa de R$ 275 milhões.
No modelo atual, os bancos antecipam recursos para a varejista oferecer seu crediário, que tem um duration médio de 14 meses. Como os bancos reduziram os limites desse crédito por conta da situação complexa do varejo, a Casas Bahia teve que desembolsar mais pelas dívidas que venceram do que conseguiu captar em novos recursos com os bancos.
Essa situação deve melhorar com a criação de FIDCs, o primeiro dos quais foi lançado hoje. A ideia da Casas Bahia é migrar gradativamente toda sua carteira de CDCI (que hoje soma R$ 5,5 bilhões) para os FIDCs, e passar a usar esse veículo para financiar sua operação de crediário.
O FIDC lançado hoje pode chegar a R$ 1,5 bilhão. Por enquanto, ele está rodando em beta em apenas cinco lojas, mas a ideia é começar a fazer o roll-out na semana que vem e levar o modelo para todas as lojas ao longo dos próximos meses.
Como a Casas Bahia origina cerca de R$ 400-R$ 500 milhões de crediário por mês, a migração total da carteira de CDCI deve acontecer em 12 meses, a partir do momento em que o FIDC estiver rodando em todas as lojas.
No trimestre, o GMV da Casas Bahia caiu 4%, para R$ 9,8 bilhões. Essa queda foi impactada pelo 1P, que caiu 6%; o 3P subiu 13% no período.
“Mas ganhamos share em todas as categorias, o que mostra que todo o mercado está afundando,” disse Renato. “O mercado está com uma demanda muito fraca, principalmente de categorias dependentes de crédito.”
O CEO nota ainda que o varejo está mais racional. “Ninguém está fazendo loucuras. Acho que vamos ter uma Black Friday diferente. Boa em vendas, mas também boa em rentabilidade.”