A Shein disse hoje que vai começar a fabricar seus produtos localmente no Brasil — no primeiro movimento desse tipo feito pelo ecommerce chinês desde que foi fundado há 15 anos.
Marcelo Claure, o chairman da Shein na América Latina, disse ao Brazil Journal que hoje 70% dos produtos vendidos no Brasil vêm da China, e os 30% restantes vêm de parceiros do marketplace brasileiro.
Até 2026, o plano é inverter essa relação, com 80% dos produtos vindo da fabricação local e do marketplace e apenas 20% sendo importados da China. “Só vamos continuar importando os produtos que o Brasil não consegue fabricar aqui”, disse ele.
A Shein está se comprometendo a fechar parcerias com 2 mil fabricantes brasileiros, gerando 100 mil empregos ao longo dos próximos três anos.
A companhia disse que vai investir US$ 150 milhões nesse período para adaptar as fábricas brasileiras ao modelo de produção da Shein, com investimentos em tecnologia, equipamentos e treinamento dos colaboradores.
Hoje, todos os produtos de marca própria da Shein são fabricados na China, em dezenas de milhares de fábricas afiliadas, e exportados para os 150 países onde a empresa tem atuação.
O anúncio vem num momento em que a Shein e outros ecommerces chineses vinham sofrendo críticas de varejistas brasileiros pelo que eles vêem como concorrência desleal.
Nas últimas semanas, o Governo estudou taxar as remessas internacionais de até US$ 50, mas acabou voltando atrás depois de críticas nas redes sociais.
Claure falou sobre o compromisso de investimentos depois de uma reunião de duas horas com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O executivo entregou a Haddad uma carta de compromisso com as promessas feitas para o Brasil.
Segundo ele, a expectativa da Shein é que os preços dos produtos fabricados no Brasil sejam iguais ou menores que os importados, já que a empresa terá uma economia grande com a logística.
“Já começamos a testar a fabricação com pequenos fabricantes daqui e vimos que o brasileiro tem a mesma eficiência dos chineses, e temos muita economia no supply chain,” disse ele. “Quando chegarmos nessa escala de 2 mil fábricas, e tivermos implementado o nosso modelo de fabricação, o custo vai ser bem parecido.”.
A grande diferença do modelo de fabricação da Shein é que ela produz suas roupas on demand. Em outras palavras, ela só fabrica o que vende, evitando que os fabricantes tenham o custo de carregar o estoque.
“Quando você tem centenas de milhões de clientes você consegue prever muito bem o que o consumidor quer e produzir só o que vai vender. Nossos fabricantes parceiras fazem várias ordens pequenas por dias, mas as fábricas são totalmente digitalizadas e eficientes,” disse ele.
Mesmo na China, a companhia não é dona de nenhuma fábrica, operando sempre em parceria com milhares de pequenos fabricantes locais.
Segundo Claure, a decisão de iniciar a fabricação local tem a ver com a importância do mercado brasileiro para a Shein. O Brasil está entre os cinco maiores mercados da companhia em faturamento — a estimativa do mercado é que a empresa tenha faturando R$ 8 bilhões ano passado — e o brasileiro “tem um fit muito grande com os nossos produtos.”
“O product-market fit que temos com o consumidor brasileiro não existe em nenhum outro lugar do mundo,” disse Claure. “O designer de nossos produtos que mais vende, por exemplo, é um brasileiro que mora nos EUA.”
A ideia é que os produtos fabricados no Brasil também sejam exportados para outros países da América Latina. No futuro, a Shein pensa em adotar o modelo de near shoring em outros mercados em que atua.