A ação da Santos Brasil dispara 7% hoje depois da companhia anunciar seu guidance para 2023 e a renovação do contrato com a Maersk — o maior cliente do terminal que a empresa opera no Porto de Santos.

Também pesa sobre a ação uma leitura de parte do mercado de que uma venda do controle da Santos Brasil pode estar próxima. 

Na proposta de administração da Santos Brasil para a próxima assembleia, a companhia propôs remover de seu estatuto alguns artigos que tratam de temas ligados à troca de controle, além de modificar outros.

Para a XP, essas mudanças podem ser uma tentativa do grupo controlador de facilitar uma venda, um tema que já vem sendo especulado pelo mercado há alguns meses. “Acreditamos que a intenção de modificar esses artigos pode indicar que uma potencial mudança no controle é iminente,” escreveu o analista Pedro Bruno.

A mudança que chamou mais a atenção foi a exclusão do artigo 44, que proibia que uma empresa que tem participação em outros terminais de contêineres entrasse no capital votante da Santos Brasil.

Na prática, isso impediria que companhias como a Maersk e a MSC comprassem a Santos Brasil — o que vem sendo especulado por alguns investidores.

A justificativa da Santos Brasil para excluir o artigo é que essa era uma obrigação do decreto original do leilão do terminal de Santos que já não vale mais hoje. 

“Não acho que isso necessariamente implica que já tem algo pra sair agora, que já tem uma negociação avançada,” disse um analista do buyside. “A empresa pode estar só se antecipando para se pintar algo na frente já estar com poucas amarras.”

A ação da Santos Brasil também reagiu a duas notícias divulgadas na sexta à noite: a renovação do contrato com a Maersk, que representa cerca de 70% do volume do Terminal de Santos, o principal da companhia; e o guidance da empresa para 2023, que veio acima das expectativas do mercado.

A Santos Brasil disse que espera um volume de 1,2 a 1,4 milhão de contêineres no ano, e um EBITDA de R$ 1 bilhão a R$ 1,2 bilhão, com um capex de R$ 500 milhões a R$ 600 milhões.  

Para o analista, as duas notícias são positivas porque tiram um dos principais riscos da tese — a dependência da Maersk — e mostram que a empresa está conseguindo recompor suas tarifas, que estão “super defasadas.”

“As notícias mostram que eles têm uma posição competitiva no Porto e estão com poder de precificação para recuperar as tarifas do passado,” disse ele. “No Porto de Santos, o terminal da Santos Brasil é um dos poucos que não está operando em full capacity.”

Nas contas do BTG, a renovação com a Maersk veio com um aumento de 60% nos preços, considerando a mediana do guidance de EBITDA para o ano e volumes estáveis. Esse aumento é mais que o dobro das expectativas do mercado, que projetava um aumento de 25% a 30%. 

As notícias vem num momento em que o mercado tem monitorado outro risco para a tese: a licitação do STS10, um novo terminal de contêineres no Porto de Santos que deve aumentar a capacidade, afetando os preços das tarifas. 

O temor no mercado é que aconteça algo parecido com o que ocorreu em 2013, quando a BTP e a Embraport começaram a operar no Porto e praticamente dobraram a capacidade de um ano para o outro. 

“Acho que a situação aqui é bem diferente,” disse o analista. “O aumento de capacidade não vai ser tão grande e vai ser bem mais gradual. Acho difícil esse terminal entrar em operação antes de 2027.”

O novo terminal deve adicionar cerca de 2 milhões de contêineres de capacidade ao Porto, que hoje tem uma capacidade de 5,3 milhões, que deve crescer nos próximos anos.