Para o BTG Pactual, o nível atual da Bolsa brasileira já está precificando boa parte do ‘risco Brasília’ e qualquer melhora “leve” nas expectativas pode corrigir para cima o preço das ações. 

“Os juros longos estão nos maiores níveis desde 2018, as estimativas de crescimento para o PIB são desanimadoras e as sinalizações do novo Governo no campo fiscal podem causar inflação,” escreveram os estrategistas Carlos Sequeira, Osni Carfi e Guilherme Guttilla. “Mas dado o quão barata a Bolsa está, melhorias pequenas em algumas variáveis podem produzir um rebound.”

O BTG rodou seis cenários para a Bolsa dependendo de onde forem as expectativas de inflação, juros e PIB.

O cenário do meio assume juros reais longos em 5% (em comparação aos 6,34% de hoje), a expectativa para o crescimento do PIB subindo de 0,75% para 1% e a estimativa para a inflação caindo para 4,5% dos 5,1% atuais.  Neste cenário, o múltiplo justo da Bolsa seria de 9x o lucro estimado para o ano que vem – um upside potencial de 8%, com o índice indo dos atuais 103 mil pontos para 111 mil.

A Bolsa hoje negocia a 8,4x (ex-Petro e Vale) – o menor nível desde 2009. 

Se o cenário melhorar ainda mais – com os juros reais longos indo para 4,5%, o crescimento do PIB para 1,5% e a inflação para 4% – o BTG vê o Ibovespa indo para 130 mil pontos, um upside de 26%. 

O banco de André Esteves estima um crescimento no lucro das empresas de sua cobertura (ex-Petro e Vale) de 7,7% para o ano que vem – em linha com o crescimento de 1% do PIB e a inflação de 5%.

Mas esse crescimento deve variar muito de setor a setor. Para as empresas domésticas, o banco estima um crescimento de lucros de 14%, enquanto as exportadoras de commodities devem ver uma queda de 27%.

“Embora 14% de crescimento pareça muito agressivo em comparação à expectativa de crescimento do PIB, já vimos um múltiplo de 2,3x de crescimento de lucro doméstico das empresas listadas em relação ao crescimento do PIB no passado,” diz o relatório.

Os analistas notam, no entanto, que um cenário de taxas de juros altas por mais tempo pode reduzir ainda mais a expectativa para o crescimento do PIB, levando a uma revisão dos lucros. 

No cenário atual, o BTG disse que posicionou seu portfólio para ter exposição a quatro temas: reabertura da China; preços do petróleo altos; e juros relativamente altos.

Para surfar a reabertura da China, o BTG acha que a Vale é o melhor veículo. Para aproveitar os juros altos, o banco está se expondo ao Itaú e à BB Seguridade. Já para ganhar com o petróleo, o BTG escolheu a PetroRio

“A alternativa natural para ganhar exposição ao petróleo no Brasil seria a Petrobras, mas a incerteza sobre como o novo Governo tocará a empresa nos obriga a evitar o nome por ora.”