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Affonso Celso Pastore e a evidência empírica na economia

18 de out, 2023

Morreu nesta quarta-feira, 21, o economista Affonso Celso Pastore, aos 84 anos, em São Paulo. Ex-presidente do Banco Central, Pastore havia sido internado para uma cirurgia no sábado, 17, mas não resistiu.

Pastore foi o convidado de estreia do videocast Lado B, conduzido pelo também economista Marcos Lisboa. O programa foi lançado em outubro do ano passado.

“A narrativa é sedutora, mas ninguém mete a mão para fazer o teste empírico,” disse Pastore. A obsessão em usar a melhor pesquisa disponível permitiu que um dos mais renomados economistas brasileiros ajudasse o país a avançar em temas diversos como agricultura, política cambial, ajuste da inflação e dos juros.

“Se queremos evoluir em ciência, precisamos ter o cuidado de fazer o teste empírico. É a coisa mais parecida que se tem com Física, Química e Medicina.”

Este primeiro episódio foi uma aula sobre economia brasileira e as distorções que foram criadas e – em parte – corrigidas ao longo do tempo. Pastore transitou entre a academia, o setor público – entre outros cargos, foi presidente do Banco Central de 1983 a 1985 – e a atividade de consultoria econômica.

Nesta conversa, Lisboa resgata o papel histórico de Pastore no diagnóstico dos desafios da agricultura brasileira, o que contribuiu para o avanço da produtividade de um setor que cresce mais de 3% ao ano há quatro décadas.

“Havia uma discussão de que a agricultura não respondia a preço, que era uma tese da Cepal,” conta Pastore.

Lisboa lembra que a tese dominante nesse período era de um mundo dualista: de um lado, a indústria moderna e produtiva; de outro, a agricultura atrasada e que empregava muita gente.

“A narrativa estava errada. Se a agricultura reage a preço no produto, os insumos também reagem a preço. Ao criar uma inovação técnica que baixa o preço do trator ou do fertilizante, o agricultor adota mais tratores e fertilizantes, o que aumenta a produtividade.”

Da pesquisa em agricultura, Pastore migrou para a macroeconomia. Ele lembra como chegou à presidência do BC, a convite do então ministro do Planejamento Delfim Netto, no meio de uma das maiores crises brasileiras, em que não havia reservas cambiais e o país não tinha dólares para pagar suas obrigações.

“O Brasil estava negociando com o FMI um acordo de stand-by, que era a condição necessária para consolidar todos os atrasos com os bancos e refinanciar todas as dívidas vencidas e vincendas,” conta Pastore.

“Eu tinha uma frustração enorme no Banco Central porque não podia fazer política monetária”, diz. “O Banco Central era o administrador da dívida pública; olha o que era o Brasil institucionalmente nessa época.”

Pastore também falou sobre a relação entre as políticas fiscal e monetária.

“O Banco Central do Ilan (Goldfajn) conseguiu trazer a taxa real de juro de um ano para 2%. Mas foi o ajuste fiscal feito pelo então governo que permitiu que o Banco Central reduzisse os juros.”

E alerta: “Se ficar como está, o juro real vai ficar em 5%, 6%, e o Brasil não irá crescer como podia.”

Disponível também na versão podcast:

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