Cazuza já havia dado a letra: “Eu vejo o futuro repetir o passado/Eu vejo um museu de grandes novidades.”
Quando se trata das estatais, os analistas concordam com o poeta-profeta.
O UBS BB preferiu não esperar a nomeação do novo CEO da Petrobras e rebaixou a recomendação da estatal de “compra” para “venda” – decepando o preço-alvo de R$ 47 para R$ 22 – e o Itaú BBA disse que pode ir pelo mesmo caminho.
Depois de anos de recuperação com o turnaround feito durante os governos Temer e Bolsonaro, a empresa já perdeu um terço do valor de mercado desde a definição das eleições.
Num relatório ontem à noite, o UBS BB aponta três pontos-chave que devem impactar o valor de mercado da companhia a partir do ano que vem: o provável fim do preço de paridade internacional, a volta dos grandes investimentos da companhia e o aumento das despesas gerais.
“Nenhum desses pontos estão claros por agora, mas comentários iniciais do governo de transição dão alguma ideia e, olhando para o passado da Petrobras, estamos substancialmente mais cautelosos”, escreveram os analistas Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos.
Eles temem que a Petrobras volte a ser uma empresa inchada se perseguir uma diversificação de portfólio apostando em fontes renováveis sem disciplina de capital, o que impactaria diretamente na distribuição dos dividendos. O UBS BB acredita que a estatal voltará ao pagamento mínimo de 25% estipulado por lei.
O novo preço-alvo do papel passa pela expectativa de queda da margem de refino (redução de R$ 10 no preço da ação), a volta das despesas gerais aos níveis de 2019 (queda de R$ 6) e uma maior participação do governo nos acordos de compartilhamento de produção (outra redução de R$ 6).
O Itaú BBA vai no mesmo caminho do UBS BB.
Apesar de não ter mudado (ainda) sua recomendação, a analista Monique Grego diz que a mudança na política de preços representa uma inquestionável virada na rentabilidade da Petrobras.
A situação piora com a alta volatilidade do mercado internacional, o que pode fazer com que a Petrobras perca grandes oportunidades.
“O impacto da implementação de preços baseados em custos não considera o custo de oportunidade do petróleo. Isso teria um impacto dramático nos resultados da empresa e não é precificado hoje.”
O Itaú BBA manteve o preço-alvo em R$ 38. Por enquanto.
Se for mesmo um pragmático, e não um político ideológico, Lula deveria preservar os avanços na empresa, que continuaria gerando dezenas de bilhões de reais em dividendos para o Tesouro — dinheiro para ser usado em políticas públicas.
É hora de evitar maluquices.