A PagSeguro está dando seu passo mais significativo para ampliar seu mercado de atuação, indo em direção a pequenos negócios com faturamento maior do que o de microempreendedores individuais (MEI), onde nasceu e nada de braçada.
Lançada hoje pela PagSeguro, a Moderninha Smart tem funcionalidades mais completas que os modelos anteriores. Além de passar os cartões de crédito e débito, oferece softwares já embutidos para gestão do negócio, como gerenciamento de vendas, estoques e emissão de boletos.
O movimento é uma ofensiva em direção ao mesmo mercado da Stone, e vem no momento em que a empresa fundada por André Street está prestes a lançar sua oferta inicial de ações nos Estados Unidos. (Alguns gestores foram rápidos em lembrar que, às vésperas do IPO frustrado do Agibank, a PagSeguro lançou uma oferta de ações que drenou parte da demanda. Maldade?)
A maior novidade da Moderninha Smart está em sua campanha publicitária, que será veiculada em rede nacional. Na peça, a PagSeguro enfatiza pela primeira vez a concessão de crédito para comerciantes, que podem pedir empréstimos diretamente pela maquininha.
O IPO da Stone e o ‘timing’ do lançamento da PagSeguro explicitam uma nova batalha na ‘guerra das maquininhas’, desta vez focada nos investidores: a apropriação da comparação com a Square, a empresa americana considerada o benchmark das credenciadoras de cartão.
A Square começou vendendo as maquininhas a microempreendedores pelo correio, assim como a PagSeguro. Mas prosperou efetivamente ao avançar na pirâmide e oferecer produtos associados – como os softwares de gestão e o crédito.
Em conversas com investidores antes do processo do IPO, a Stone já sinalizava que pretende avançar nesses serviços – uma narrativa que tende a ganhar corpo durante o roadshow.
“A PagSeguro precisa subir na pirâmide para fazer o cross-selling”, diz o analista de buy side que vem acompanhando de perto as duas companhias. “A Stone já está exatamente no meio da pirâmide, que é o alvo desse cross-selling”.
“Essa história de softwares de gestão acoplados às maquininhas não vingou direito aqui no Brasil e não é percebido como diferencial”, acrescenta. “O acesso a capital e o crédito tende a ser mais relevante”.
Esse crédito – conhecido como ‘crédito fumaça’ – é diferente da antecipação de recebíveis, modalidade comum no Brasil em que as adquirentes adiantam o pagamento de transações parcelas mediante uma taxa de desconto.
O Credit Suisse estima que a Moderninha Smart será voltada para comerciantes com faturamento na casa de pelo menos R$ 100 mil anuais. Hoje, o cliente típico da PagSeguro fatura, em média, R$ 20 mil ao ano.
O maior golpe é na Cielo. A Moderninha Smart compete diretamente com os modelos LIO e LIO+ da Cielo, que trazem soluções de gestão. Mas o preço é bem mais baixo. A Moderninha Smart custa R$ 838,80 ou 12 vezes de R$ 69,90, enquanto a LIO custa R$ 190 por mês (de aluguel) no modelo de entrada.
A LIO +, um smartphone que se transforma em máquina de cartão quando um gadget é acoplado, é voltado para estabelecimentos com menor faturamento e custa 12 vezes de R$ 89,90.
As taxas cobradas por transação – o MDR, no jargão do setor – também podem ser um empecilho para a Moderninha Smart. Na nova maquininha, a empresa do grupo UOL cobra 1,99% no débito e 5,99% no crédito – compatível com as maquininhas anteriores, voltadas a quem fatura menos.
A Stone tem um modelo ‘tailor made’, com uma rede de distribuição mais próxima do cliente e que costura ofertas personalizadas. A empresa não divulga taxas médias, mas pesquisas qualitativas mostram que normalmente a troca para o sistema da Stone acontece por ‘preço’ e ‘atendimento’.