O Agibank acaba de postergar seu IPO citando as famosas “condições de mercado”.
O banco gaúcho — um misto de financeira com banco digital fundado pelo empreendedor Marciano Testa — estava em roadshow desde o dia 4 e pretendia precificar a operação amanhã.
Em vez de embarcar no novo, muitos investidores que olharam a transação resolveram comprar o que já conhecem: os bancos tradicionais, cujas ações caíram dramaticamente nas últimas semanas.
O Bradesco negocia a pouco mais de 7 vezes o lucro estimado para este ano, enquanto o Itaú Unibanco oferece um ‘dividend yield’ de 9%.
De 27 de abril até segunda-feira, Itaú havia caído 25% e Bradesco, 30%. Ambos subiram ontem e hoje.
Outro fator que não ajudou o Agibank foi a oferta secundária inesperada da PagSeguro, anunciada anteontem.
“Os investidores estão comprando a narrativa de disruption e fintechs,” diz um gestor. “O IPO da PagSeguro vendeu bem por causa disso. Aí quando a Pag faz uma oferta dessas, por um lado ela tira demanda que poderia ir para o Agibank e por outro assusta quem estava comprado.”
Esta manhã, os coordenadores do Agibank — Credit Suisse, Merrill Lynch, Itaú BBA, BTG Pactual e Bradesco BBI — testaram as águas para uma faixa de preço mais amigável. Dos R$ 13,87 a R$ 16,95 originais, haviam baixado a bola para R$ 11,50 a R$ 13.
O mercado está, sim, à flor da pele. Mas desde o início, o Agibank era um ativo exuberante sob qualquer métrica. Enquanto Itaú negocia a 1,8 vez seu valor patrimonial, o valuation original proposto para o Agibank chegava a 20 vezes. “O banco não soube explicar ao mercado porque seu modelo de negócios é único e vale tanto,” diz um gestor.
Fundado por Marciano, um ex-pastinha do Bradesco, o Agibank é frequentemente comparado à Crefisa por seu foco em empréstimo pessoal e crédito consignado e taxas de 18% ao mês. Seu retorno sobre o patrimônio está em 42% e seu retorno sobre ativos, 20%.
No piso da faixa antiga, o Agibank teria um valor de mercado de R$ 9 bilhões (incluindo os recursos levantados na oferta). No piso da nova faixa, o valor de mercado cairia para R$ 7,5 bi, ou 14 vezes o lucro estimado para 2019.
Das 162 milhões de ações do IPO, cerca de 55% estavam sendo vendidas pelo próprio banco para financiar seu crescimento, enquanto outros 45% estavam sendo vendidas pelo controlador.
Mal o IPO foi anunciado, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação contra a Agiplan Financeira, vinculada ao Agibank.
O processo acusa a empresa de “práticas como a retenção automática de saldos em conta-corrente de aposentados, pensionistas e pessoas de baixa renda, sob o pretexto de que tarifas e parcelas de empréstimo consignado estariam em atraso. O Banco Central e a Secretaria Nacional do Consumidor também são réus devido à omissão no controle e na fiscalização sobre as atividades da instituição de crédito,” diz o MPF em seu site.