Depois de muita preparação, o Banco Central trouxe uma grande inovação no ano passado: o PIX, um meio de pagamentos instantâneos disponível 24/7. 

Mas na última sexta-feira, o BC criou uma série de limitações que eliminam praticamente todos os diferenciais que o PIX trazia em relação aos métodos antigos, como a TED.

Como forma de reduzir as transações fraudulentas — mediante sequestro-relâmpago e invasão de contas — o BC introduziu medidas arcaicas, como a limitações de valores e horários.

Além disso, as instituições financeiras poderão reter as transações por 30 minutos durante o dia e 60 minutos durante a noite, deixando de ser uma opção instantânea. Tais medidas são apenas paliativas e duram até que os criminosos encontrem novas alternativas, o que forçará o BC a criar novas restrições.

Esse problema não vai ser resolvido com limitações de horários e valores, mas com tecnologia de ponta. Soluções que não somente existem, como já estão sendo utilizadas por diversas instituições. 

Por exemplo, dados comportamentais e a identificação de dispositivos podem mitigar os riscos associados ao sequestro-relâmpago e à invasão de contas de maneira muito mais efetiva do que as novas regras do BC. 

Sem pretender advogar em causa própria, a Incognia, empresa que fundei, oferece um mecanismo de autenticação baseado em comportamento de localização, que permite identificar quando uma transação é feita de um local seguro para o usuário, como casa ou local de trabalho, de onde ocorrem 95% das transações sensíveis e 90% dos acessos a apps financeiros. 

Isso cria uma camada de proteção que dificulta a invasão de contas e reduz o risco associado ao sequestro-relâmpago ao definir os locais de onde transações de alto valor podem ser realizadas, independente do horário. Afinal, é difícil imaginar que você iria para o meio da rua fazer uma transferência de R$ 50.000.

A biometria facial, oferecida por outras empresas de cybersegurança como a Único, consegue verificar se uma face está vinculada a um CPF. Já a validação de documentos, oferecida por empresas como a idwall e a CrossCore, lê os dados de uma CNH para validar um cadastro.

A combinação dessas tecnologias pode mitigar os riscos de criação de contas falsas, posteriormente utilizadas para receber o dinheiro roubado. Sem acesso a uma conta falsa, os criminosos acabam precisando se expor, aumentando o risco de serem pegos.

A postura do BC deveria ser de estimular a adoção dessas tecnologias por parte dos participantes, e não de criar regras que pioram a experiência dos consumidores e prejudicam o varejo (bem como os participantes de mercado que estão mais avançados tecnologicamente). Tais regras só beneficiam as instituições que não estão conseguindo inovar rapidamente.

Depois das limitações impostas pelo BC, as únicas diferenças práticas entre o PIX e o TED são que não há custo para fazer transações entre bancos e que os fins de semana ainda estão liberados. Fora isso, toda a conveniência dos pagamentos instantâneos acabou.

A beleza do PIX é justamente o seu caráter instantâneo, que torna o comércio muito mais dinâmico e acelera a economia. Torço para que o BC reverta a decisão e permita que os participantes continuem focando em inovar para oferecer uma experiência mais segura para seus clientes.

 

André Ferraz é fundador da Incognia.