O que mais destrói valor na Cielo: um nadador ou um regulador?cesar cielo natacao

As ações da Cielo caíram 6,3% ontem depois de um executivo do setor de cartões de crédito ter dito que o Banco Central pode obrigar as credenciadoras de cartões a pagar aos lojistas antes dos 30 dias que são a prática do mercado hoje.

Segundo corretoras, o comentário foi feito por Marcelo Noronha, executivo do Bradesco e presidente da ABECS (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito), durante reunião com investidores.

Edson Santos, que já foi CFO da Redecard e CEO da Global Payments, diz que esta preocupação é exagerada, porque a medida seria um tiro no pé.

“A indústria de cartões de crédito é montada assim: o cliente paga sua fatura, em média, 26 dias depois da compra. O banco repassa o dinheiro às credenciadoras (a Cielo, a Redecard, que agora é do Itaú) dois dias depois, e estas pagam os lojistas daí a dois dias,” diz Santos, que faz consultoria no setor. “Se o cliente continua pagando em 26 dias e o lojista recebe em 15 dias, você passa a ter necessidade de capital de giro nos bancos emissores ou nas credenciadoras.”

Santos não acredita que o BC tomaria esta medida. “O que o BC conseguiria com isso? Ele aumentaria a concorrência? Não. Ele aumentaria o crédito disponível? Não. Ele apenas transferiria valor de um lado para o outro: o lojista ganharia, porque receberia mais cedo, mas os emissores e as credenciadoras repassariam isso para o preço. No final, quem seria prejudicado é o usuário do cartão.”

Para ele, o BC fará melhor se aumentar a concorrência no setor. “Novas credenciadoras entrando no mercado podem tentar se diferenciar oferecendo pagar ao lojista mais cedo, e com isso forçariam os outros a fazer o mesmo.”

Os investidores também estão preocupados porque a Cielo, como qualquer credenciadora, cobra do lojista uma taxa de juros para antecipar o pagamento dos recebíveis. A receita financeira que vem desta antecipação já responde por 18,2% da receita da Cielo no primeiro semestre deste ano. Em 2012, esse negócio era apenas 10.8% da receita da Cielo. Se o atual ciclo de pagamentos de 30 dias fosse encurtado, isso obviamente implodiria o desconto de recebíveis.

O outro problema da Cielo atende pelo nome de Cesar… Cielo.

No início da tarde de ontem, saiu a notícia de que a Justiça Federal havia dado ganho de causa ao nadador, que contesta o direito da Cielo de usar a marca. Em decisão de primeira instância, a Justiça entendeu que a Cielo se apropriou indevidamente do nome da família do nadador depois de celebrar com ele um contrato de uso de imagem. A Cielo disse que vai recorrer.