O Neon acaba de levantar R$ 400 milhões para um FIDC focado em empréstimos de cartões de crédito – aumentando sua capacidade de monetização da base num momento em que o mantra do banco digital é “chegar na lucratividade.”
Desde julho passado, a fintech fundada por Pedro Conrade já colocou R$ 400 milhões de capital próprio nesse mesmo FIDC, comprando as cotas subordinadas – a parcela de maior risco e retorno.
Agora, ele levantou outros R$ 400 milhões nas cotas sêniores, numa captação feita com apenas cinco investidores, entre eles a XP, Banco BV e a gestora Empírica, que colocaram cerca de R$ 100 milhões cada.
A captação saiu a CDI + 5,25% e tem prazo de três anos.
O CFO Jamil Marques disse ao Brazil Journal que os novos recursos vão permitir ao banco originar mais crédito até o início do quarto tri, quando o Neon espera captar mais recursos neste mesmo fundo.
Além do FIDC, o Neon conta com funding do BV, que até pouco tempo atrás ‘encarteirava’ todos os empréstimos originados pelo banco digital.
“A combinação de BV e FIDC nos traz muito mais flexibilidade para crescer,” disse o CFO. “É melhor não depender de apenas uma fonte de funding.”
Há alguns meses, o Neon havia levantado R$ 220 milhões para um FIDC focado no consignado privado, o segundo maior produto da fintech, atrás do cartão. O terceiro (e menor) produto é o empréstimo pessoal.
A expectativa do Neon é dobrar sua carteira de crédito este ano, chegando a R$ 3 bilhões.
Essa expansão é a principal estratégia de monetização do Neon, que já tem mais de 15 milhões de contas abertas mas ainda opera no vermelho.
“No cenário atual, temos ficado cada vez mais obcecados com nosso objetivo de atingir a lucratividade,” disse Jamil. “Continuamos abrindo novas contas, mas o foco desde o ano passado é aumentar a receita por cliente, e isso se dá pela expansão de produtos e features, e aumentando o engajamento.”
A última rodada do Neon foi em fevereiro, quando a fintech levantou US$ 300 milhões com o banco espanhol BBVA.
Segundo Jamil, o business plan do Neon prevê que esses recursos já levem o banco para o breakeven – um milestone que se tornou crítico para boa parte das startups nos últimos meses.
Desde que foi fundado em 2016, o Neon levantou US$ 770 milhões em equity.
“Fomos um dos bancos digitais que menos levantou recursos até agora,” disse o CFO. “Mesmo assim, conseguimos construir uma plataforma robusta.”
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A captação do FIDC vem num momento em que os bancos – tanto os tradicionais quanto as fintechs – têm sofrido com o aumento da taxa de juros e a perspectiva de uma recessão global.
Jamil reconhece que tem havido uma piora na inadimplência em todo o mercado, mas que seu modelo de crédito “tem respondido bem, calibrando o apetite de risco na medida em que a inadimplência vai aumentando.”
Segundo ele, isso não significa necessariamente que o Neon tenha diminuído as aprovações, mas muitas vezes tem dado limites menores ou esperado o cliente ter uma relação de alguns meses com o banco para liberar o cartão.
“Nosso patamar de inadimplência está dentro do controle, e essa captação reforça a robustez do nosso processo de aprovação e de cobrança.”