Paul Polman, que liderou a Unilever por uma década e disse ‘não’ a uma fusão com a Kraft Heinz, vai deixar o cargo na virada do ano.

Seu substituto será Alan Jope, um veterano da companhia que atualmente comanda a divisão de beleza e cuidados pessoais — o negócio que mais cresce na Unilever, e no qual a companhia mais investiu nos últimos anos.

10341 91bd6f5f 2519 0000 02a9 5cd86ea54b0aJope, um escocês que entrou na Unilever em 1985, já trabalhou nos Estados Unidos e na Ásia, e tanto no negócio de beleza quanto na divisão de alimentos.

Ele tem 54 anos e é tido como uma pessoa calorosa e de fácil acesso, mais focado no marketing e na construção de marcas do que no lado financeiro.

Foi de Jope a decisão de comprar o Dollar Shave Club, o clube de assinatura de lâminas, numa aquisição que demonstrou a disposição da Unilever em arejar seu modelo de negócios. Jope também fez uma série de pequenos M&As e expandiu a marca Dove, lançando uma nova linha de produtos para bebês e aumentando a prateleira de produtos masculinos. Também lançou novas marcas como Love, Beauty e Planet, focadas nos millennials.

O novo CEO assume em 1 de janeiro, mas Polman ficará na companhia ao longo do primeiro semestre para ajudar na transição. O mercado já aposta que Jope será tentado a retirar o guidance financeiro criado por Polman, tido como muito ambicioso.

Polman será lembrado por ter resistido a uma abordagem da 3G Capital para vender a Unilever para a Kraft Heinz — com a benção de Warren Buffett — num negócio de US$ 143 bilhões.  Depois da rejeição, a oferta fez o mercado olhar com mais carinho a Unilever e turbinou as ações da empresa.

Mas, numa era em que o consumidor exige cada vez mais transaparência e autenticidade, seu legado mais importante foi colar a imagem da Unilever no tema da sustentabilidade e se posicionar como um CEO focado no longo prazo, frequentemente criticando o curtoprazismo dos investidores em Bolsa.

Veteranos da Unilever dizem que a visão progressista de Polman reconectou a companhia com a missão que ela tinha na sua origem, quando, por volta de 1890, William Hesketh Lever teve a ideia do Sunlight Soap, um produto revolucionário que ajudaria a popularizar a limpeza e a higiene na Inglaterra vitoriana. Sua ideia: “tornar a limpeza algo comum; diminuir o trabalho para as mulheres; promover a saúde e contribuir para a atratividade pessoal, tornar a vida mais agradável e gratificante para as pessoas que usam nossos produtos.”

Este ano, Polman quis centralizar o comando da Unilever em Roterdam, onde a companhia mantem um de seus headquarters, além de Londres.  O movimento atraiu a ira de grandes acionistas e contribuiu para acelerar sua saída.

Um analista da Bernstein disse ao WSJ que, apesar de ter um “complexo de Deus”, Polman foi um CEO “excepcionamente bom” para a companhia.

Nos últimos 10 anos, o retorno total da ação da Unilever foi de 240%, contra 278% do S&P, que é cheio de ações de tecnologia.  Na comparação com outras empresas do setor, a Unilever retornou 240% contra 207%. 

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