O Bradesco lucrou R$ 5,4 bilhões no quarto trimestre, uma alta de 3,4% frente ao trimestre anterior e de 87,7% em relação ao mesmo período de 2023 – quando o banco iniciou sua agenda de transformação.
O lucro ficou pouco acima do consenso de mercado, de R$ 5,3 bi. No ano, o lucro foi de R$ 19,6 bilhões, 20% maior que o de 2023.
O ROE continuou crescendo: foi a 11,7% no quarto tri, ante 11,3% no terceiro tri e 10% em dezembro de 2023.
Mas algumas características do resultado e as dúvidas sobre como o banco vai performar num ano mais complicado fazem a ação operar em baixa desde a abertura do mercado.
“O Bradesco tem pouca margem para erros,” escreveu o analista Eduardo Rosman, do BTG Pactual.
“Transformar o banco seria uma tarefa significativa mesmo em uma economia em crescimento com taxas de juros em queda. Fazer isso em meio ao agravamento das condições macroeconômicas torna o desafio ainda maior, sugerindo um processo mais longo e lento.”
O resultado do quarto tri foi ajudado pela expansão da carteira de crédito de 11,9% na comparação anual, acima do guidance, e também por itens extraordinários – como o aumento da margem com o mercado, que chegou a R$ 842 bilhões no quarto tri em razão de operações de trading.
Para o BTG, isso “dificilmente se repetirá nos próximos trimestres”.
Além disso, o índice de capital principal caiu para 10,5% no quarto tri. Esse número vai aumentar para 10,9% neste trimestre com as mudanças exigidas pela resolução 4966, mas esse ainda é visto como um patamar baixo por analistas.
O Bradesco tem distribuído volumes elevados em JCP para manter uma alíquota baixa de imposto de renda, o que beneficia o resultado. No entanto, tem impacto negativo no patrimônio.
O CEO Marcelo Noronha não vê isso como um problema. “O buffer em relação ao mínimo regulatório é enorme. Traçamos diferentes cenários e estamos tranquilos que esse é um patamar confortável para garantir nosso crescimento,” afirmou hoje cedo em apresentação a jornalistas.
Do lado positivo, a qualidade dos ativos de crédito no quarto tri chamou a atenção do mercado. A inadimplência continuou em queda e chegou a 4%, ante 4,2% no tri anterior e 5,1% em dezembro de 2023.
A margem com clientes aumentou 3,3% no tri a tri e 4,7% frente ao mesmo período de 2023, mas caiu 5,1% no acumulado do ano.
Com isso, a margem financeira total caiu 2,3% e ficou abaixo do guidance, que indicava uma expansão de 3% a 7%.
O banco parou de divulgar guidance para a margem financeira total. No lugar, passou a informar a projeção para a margem líquida, que exclui as provisões e indicam o resultado efetivo gerado pelas operações de crédito.
A estimativa para a margem líquida neste ano vai de R$ 37 bilhões a R$ 41 bilhões, acima dos R$ 34 bi apurados em 2024.
Preparando-se para um macro mais complicado, o Bradesco já reduziu levemente a oferta de crédito no quarto tri e aumentou a concessão de linhas com garantias. “Nosso modelos estão mais azeitados e pé no chão,” diz Noronha.
Para conseguir crescer e gerar retorno sendo mais conservador, o banco aposta em operações que gerem maior retorno ajustado ao risco. Também pretende privilegiar clientes que têm relacionamento com o banco, já que o consumo de diferentes produtos pode ajudar a remunerar o capital.
O guidance para a carteira de crédito é de um crescimento de 4% a 8% neste ano. O lucro projetado para 2025 a partir do guidance é de cerca de R$ 22 bilhões.
“É cauteloso em razão do cenário macro, mas otimista em relação ao que estamos fazendo”, diz Noronha.
O CFO Cassiano Scarpelli lembrou que o banco tem um plano de transformação de cinco anos, que começou a ser implementado no início de 2024.
Para ele, o resultado do ano passado foi um importante checkpoint nessa trajetória. “Continuaremos focados nisso em 2025. Não vamos abrir mão de crescimento nem da agenda de transformação.”
A seguradora continuou entregando um resultado positivo. A receita foi de R$ 5,5 bilhões no quarto trimestre, alta de 9,6% em relação ao tri anterior e de 16,6% frente ao mesmo período de 2023.
O lucro líquido chegou a R$ 2,5 bilhões, uma expansão trimestral de 6,6% e de 1,9% no ano a ano. O ROE aumentou para 25,1%. O lucro líquido anual, de R$ 9,1 bilhões, foi o maior da série histórica.
O resultado foi alcançado por ganhos operacionais, mais que financeiros, segundo Ivan Gontijo, presidente da Bradesco Seguros.
O guidance para 2025 prevê um crescimento de 6% a 10% nas receitas de seguros, previdência e capitalização. “É uma atividade resiliente a movimentos de mercado,” diz Gontijo.