A ação do Magazine Luiza despenca mais de 18% hoje depois que a companhia reportou um EBITDA abaixo das projeções do mercado e prejuízo pelo quinto trimestre consecutivo.
A varejista teve um prejuízo de R$ 309 milhões, impactado principalmente por um aumento das despesas financeiras, que somaram R$ 750 mi.
Todos os analistas já projetavam uma perda, mas bem menor do que a reportada, na ordem de R$ 170 milhões.
O EBITDA de R$ 448 mi também decepcionou, ficando cerca de 12% abaixo do consenso.
Um analista do buyside lembra que a ação já havia subido muito nas últimas semanas com a melhora da Bolsa, e que com a crise da Americanas todo o mercado estava projetando que os outros players iam se beneficiar muito, tanto em crescimento de top line quanto em melhora de rentabilidade.
“No top line eles realmente ‘outperformaram’, ganharam share e só ficaram atrás do Mercado Livre,” disse esse analista. “Mas a rentabilidade veio muito ruim.”
O GMV do Magalu cresceu 11% na comparação anual, atingindo R$ 11,3 bilhões. No período, o mercado de ecommerce brasileiro caiu 14% e a Via Varejo, 1,5%. Com isso, o Magalu ganhou 6,2 pontos percentuais de share.
As vendas das lojas físicas também aumentaram, com as vendas ‘mesmas lojas’ crescendo 6,7%. No consolidado, as vendas do Magalu cresceram 3,5%, para R$ 9,1 bilhões.
A piora na rentabilidade teve a ver principalmente com a volta do DIFAL (o diferencial de alíquota do ICMS) em janeiro, que fez com que as mercadorias vendidas passassem a ser tributadas tanto na origem quanto no destino, aumentando o imposto pago pelas empresas de ecommerce.
“Todo o ganho que eles tiveram com o crescimento do marketplace, que tem uma rentabilidade maior, e o aumento da receita de serviços, foi prejudicado pela volta do DIFAL,” disse o analista.
Segundo o Magalu, esse aumento de carga tributária gerou um impacto de 3,2 pontos na margem bruta, que contraiu 0,4 ponto no trimestre, para 27,3%. (O impacto negativo do DIFAL foi compensado em parte por um repasse de preços e um crescimento da receita com serviços, especialmente o aumento no take rate do marketplace.)
No trimestre, o repasse de preços conseguiu compensar em 0,8 ponto a pressão do DIFAL, enquanto o aumento da receita de serviços compensou em mais 1,9 ponto.
O CFO Roberto Bellissimo disse ao Brazil Journal que a companhia decidiu repassar progressivamente esse aumento de imposto para os preços: em janeiro, houve zero de repasse, em fevereiro, 25%, e em março, 50%.
A expectativa é continuar fazendo os repasses nos próximos trimestres até compensar por completo o aumento. “Esse impacto que tivemos na margem bruta vai ser algo temporário, enquanto o aumento do marketplace e da receita de serviços é algo estrutural, que vai impactar nossas margens para frente,” disse o CFO.
Segundo ele, o Magalu espera continuar aumentando as comissões médias e ganhando mais com os serviços do marketplace, como logística, advertising e fintech. “Tem muita oportunidade de monetização relacionada ao marketplace. Estamos só no começo,” disse ele.
Para um analista, o problema dessa visão mais construtiva é que o cenário macro ainda é muito difícil. “Não sei se é tão fácil repassar preço assim,” disse ele.
Bellissimo disse que uma das vantagens é que o ambiente competitivo está mais racional. “Todo mundo teve aumento de impostos, e todo mundo está tentando repassar.”
A pressão na margem bruta acabou afetando também a margem EBITDA, que caiu 1,1 ponto em comparação ao quarto trimestre e 0,1 na comparação anual, para 4,9%. O Magalu conseguiu compensar a piora da margem bruta com uma diluição das despesas e dos custos fixos.
Outro destaque negativo foi a queima de caixa, que teve um componente sazonal mas ainda assim foi elevada, na visão de um analista. O Magalu saiu de uma posição de caixa líquido ajustada de R$ 3,5 bi no final de dezembro para – R$ 145 milhões agora.
Boa parte dessa queima de caixa — R$ 2,5 bilhões — se deu pela redução da conta fornecedores. No primeiro tri, o Magalu (e todas as varejistas) têm um consumo grande de caixa para pagar os fornecedores dos produtos comprados no quarto tri para o Natal e Black Friday.
O restante da queima de caixa veio do pagamento de uma parcela da compra do Kabum, do capex e do prejuízo do trimestre.
Bellissimo disse, no entanto, que o capital de giro foi melhor que o do ano passado. O Magalu consumiu R$ 2,2 bi em capital de giro neste tri, em comparação a R$ 2,9 bi do mesmo período do ano passado. No final de março, a empresa estava com o capital de giro equilibrado em R$ 100 milhões, em comparação a uma necessidade de capital de giro de R$ 1,2 bi em março do ano passado.
Ele ressaltou ainda que o Magalu reduziu o estoque em R$ 500 milhões, melhorando o giro em 12 dias comparado com o ano passado. “Isso abre espaço para que a dinâmica de geração de caixa nos próximos trimestres seja maior. O capital de giro deve ser positivo para a geração de caixa.”
O CFO disse ainda que as despesas financeiras tiveram um fator sazonal, que aumentou o montante total em R$ 100 milhões.
“Reduzimos a conta fornecedores em R$ 2,5 bilhões, das compras do final do ano passado. E para fazer isso gastamos R$ 100 mi de despesas de antecipação de recebíveis de cartões,” disse ele.
O Magazine Luiza agora vale R$ 24 bilhões na Bolsa.