O ouro — o investimento que ao longo de séculos serviu como porto seguro para investidores tentando se proteger de guerras, crises ou simplesmente da inflação — perdeu este status para apartamentos em Nova York e Londres e obras de arte contemporânea.

Esse é o diagnóstico de Larry Fink, que comanda a maior gestora de investimentos do mundo, a BlackRock, que administra cerca de 4,6 trilhões de dólares de clientes.

Zerbini-O sanfoneiro-1998 “O Sanfoneiro”, Luiz Zerbini (1998)

“Historicamente, o ouro foi um grande instrumento para o armazenamento de riqueza”, Fink disse em Singapura, de acordo com a Bloomberg. Mas “o ouro perdeu seu brilho e há outros mecanismos em que você pode armazenar riqueza que [também] são ajustados pela inflação.”

“As duas maiores reservas de valor a nível internacional, hoje, são a arte contemporânea — e eu não estou brincando, estou falando de uma classe de ativos de verdade — e, número dois, apartamentos em Manhattan, apartamentos em Vancouver, em Londres.”

O curioso desta mudança de atitude por parte dos investidores é que nunca foi tão fácil investir em ouro. Nos últimos anos, fundos listados na Bolsa que têm o ouro como seu único investimento se proliferaram, permitindo aos pequenos investidores ganhar exposição ao metal.

Os comentários publicados pela Bloomberg não deixam claro se Fink acha que esta é uma mudança de atitude estrutural — que terá um clico bastante longo — ou se ele acredita tratar-se de algo conjuntural.

A cotação internacional do ouro está em queda de cerca de 38% em relação ao pico em 2011.

Enquanto isso, o preço mediano de um apartamento em Manhattan subiu, no primeiro trimestre, para o nível mais alto dos últimos seis anos. Em Londres, os preços de imóveis estão na máxima histórica.

A tabela abaixo mostra como, em períodos mais longos, o ouro ainda performa melhor do que a maioria dos outros ativos.

Além disso, há uma diferença significativa de liquidez entre os mercados de arte, imobiliário e de ouro. E, na arte contemporânea, há artistas que explodem e outros que nunca decolam, e ninguém — exceto, claro, certos banqueiros conhecidos — tem uma cesta diversificada de arte em casa.

Tudo isso mostra que generalizações sobre opções de reserva de valor podem ser prematuras — e que o melhor teste da hipótese de Fink virá com a(s) próxima(s) crise(s).

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