Nos últimos dias, executivos da Petrobras têm seu reunido com investidores brasileiros numa tentativa de vender 3 bilhões de reais em títulos de cinco anos, um dinheiro que vai ajudar a Petrobras a refinanciar dívida que está vencendo este ano.
Os investidores têm respondido com uma mensagem clara: aumente o preço da gasolina, ou pague juros maiores.
Depois de se debruçarem sobre os números da empresa, os investidores chegaram à conclusão de que a conta simplesmente não fecha. Com o dólar a R$4, o endividamento da empresa em 5 vezes sua geração de caixa, e a dívida em dólar custando 10% ao ano, a Petrobras deve apresentar nos próximos meses um fluxo de caixa negativo — um buraco que precisa ser financiado — de 10 a 15 bilhões de reais.
Para os investidores, uma empresa nesta situação deveria pagar uma taxa de juros ainda maior do que aquela que Petrobras está oferecendo para quem comprar seus títulos neste momento. O rendimento máximo que a Petrobras aceita pagar nos títulos é a taxa CDI mais juros de 1,85% ao ano, o que dá cerca de 112% do CDI ao ano, considerando a curva de juros de cinco anos na BM&F.
“A esta taxa, não faz sentido emprestar para a Petrobras,” diz um gestor. “Sem aumento de combustíveis, e um corte de verdade nos gastos e investimentos, há muito risco em emprestar para eles.”
Para se ter uma ideia de como o ‘risco Petrobras’ está sendo precificado com muita boa vontade na taxa oferecida pela empresa, é possível comprar, no mercado, uma letra financeira do Bradesco que paga 106% ou 107% do CDI com vencimento em apenas dois anos e bastante liquidez no mercado secundário. “Não vou me incomodar com Petrobras para ganhar um pouquinho a mais (112%) mas ter que ficar num papel de cinco anos,” diz um gestor.
Para manter seu endividamento estável, a Petrobras precisaria aumentar em 10% a gasolina e o diesel — assumindo o dólar a 4,10 e o petróleo a 45 dólares o barril. Nas contas de um investidor, se o aumento ficar restrito à gasolina, ele teria que ser da ordem de 30%.
Capa de VEJA em 9/4/2014: a ação negociava a R$16; hoje sai a R$6
“Se o [CEO da Petrobras Aldemir] Bendine se posicionar como banqueiro, e não como petroleiro, ele vai propor ao conselho um aumento de combustíveis e cortes de investimentos com venda de ativos antes dessa emissão de debêntures,” disse um gestor, refletindo o pensamento de vários. “Sem essas medidas anunciadas rápido, ele não captará ao custo pretendido, e corre o risco de ver a operação ‘micar’, ficando sem acesso ao mercado de capitais nacional e internacional.”
Muitos investidores disseram à coluna nunca imaginar que um dia receberiam funcionários da Petrobras para uma conversa sobre uma emissão de dívida no Brasil, já que a empresa sempre teve as portas do mercado internacional abertas para ela. Pior: disseram nunca imaginar, se este dia chegasse, que teriam receio em dar crédito para a empresa.
“A sensação ao falar com executivos de carreira da Petrobras é que eles tinham vergonha do que está acontecendo,” disse um gestor. “Muitas vezes eles ficavam sem jeito, sem ter o que explicar. Eles mesmos pareciam não acreditar na situação que a empresa está passando e eles mesmo estão vivendo.”
Com os investidores se mostrando refratários, a Petrobras pode ter que aumentar o rendimento que está oferecendo, ou, como costuma acontecer no Brasil quando o mercado rejeita alguma coisa, os fundos de pensão podem ser chamados a comprar boa parte da emissão de dívida da empresa.
De qualquer forma, o posicionamento dos gestores mostra que, depois da Lava Jato, depois da prática de preços inferiores aos do mercado internacional, depois das decisões de investimentos erradas, e em meio a este cenário de câmbio para cima e petróleo para baixo, não há espaço para mais erros na Petrobras. Se o Governo pagar pra ver, vai acabar precisando capitalizar a empresa – desta vez com dinheiro, e não barris do pré-sal.
O conselho de administração da Petrobras se reúne nesta quarta-feira. A pauta deveria incluir tudo o que for possível para estabilizar o balanço da empresa: cortes de custos, mais cortes no programa de investimentos, o cronograma de venda de ativos e, claro, o aumento dos combustiveis. Antes que seja tarde demais.