A volta à normalidade pré-pandemia abre a possibilidade de os juros americanos voltarem para o nível neutro, estimado em 2,5% – uma queda maior do que a precificada pelo mercado.

“Podemos estar diante de uma chance histórica de reprecificação de ativos se isso ocorrer,” disse Rodrigo Azevedo, sócio e co-CIO da Ibiúna.

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O estrategista macro falou num painel da Latin America Investment Conference do UBS, hoje em São Paulo.

O núcleo do PCE (o índice de preços favorito do Fed) já está rodando em 2%, dentro da meta. Se a inflação caiu, os juros reais subiram – e o BC americano pode iniciar os cortes em breve.

O mercado hoje precifica 2 pontos percentuais de corte até 2025, levando a taxa para o intervalo entre 3,25% e 3,5%.
Falando de Brasil, Azevedo disse que vê oportunidades táticas, mas os prêmios estão magros. A gestora prefere montar a maior parte de suas posições no exterior.

O gestor disse que não consegue ver uma oportunidade estrutural no País porque o governo persegue uma estratégia de crescimento que, na sua visão, não é a correta.

“Entre 2003 e 2010, Brasil teve 5 upgrades das agências de rating. Ficamos um nível acima do patamar mais baixo do investment grade,” disse Azevedo. “Perdemos tudo isso depois de 2010 e agora falam em retomar aquelas políticas.”

Como principal risco externo, Azevedo prevê turbulência vinda da eleição americana – especialmente se Donald Trump sair vitorioso.

Trump fala em aumentar as barreiras protecionistas, o que, segundo Azevedo, tende a fortalecer ainda mais o dólar e enfraquecer as moedas emergentes.

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A Mar Asset concorda que os juros americanos possam cair abaixo do precificado. Essa, aliás, é uma das principais posições da gestora, disse o CEO e CIO Bruno Coutinho.

“A nossa aposta é uma taxa de fim de ciclo no intervalo entre 2,25% e 2,5%,” afirmou.

O call da Mar é que os cortes começarão já em março. A Ibiúna, entretanto, acredita que o Fed deverá esperar mais um pouco.

Sobre Brasil, Coutinho disse que a PEC da Transição criou um buraco de 2% do PIB nas contas públicas que o arcabouço fiscal não é capaz de fechar.

O gestor destacou que, incluindo os recursos do pagamento dos precatórios, 2024 deverá ser mais um ano de forte avanço nos gastos públicos. Em média, as despesas subirão 8% ao ano na primeira metade de Lula 3.

“Isso dificulta o trabalho do BC. A demanda está rodando acima do potencial, e as expectativas de inflação podem subir,” disse o investidor.

A Mar não tem posições em juros e câmbio no Brasil. Prefere aplicar em ações, disse Coutinho, em uma estratégia de gerar alfa para a carteira por meio do stock picking.

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A América Latina tem duas grandes oportunidades históricas, mas não tem feito o suficiente para aproveitá-las, disse Sebastián Piñera, o ex-presidente do Chile.

A primeira oportunidade histórica é a “nova ordem” mundial da economia verde. A segunda é a disputa geopolítica entre EUA e China.

Na avaliação de Piñera, o mundo não está passando por uma “desglobalização”, e na verdade a atividade comercial tem aumentado. O retrocesso, segundo ele, está concentrado nas trocas entre americanos e chineses.

De um lado, EUA e Europa estão diversificando parceiros em sua política de de-risking em relação à China. Essa é uma oportunidade para a América Latina, que, ao mesmo tempo, poderá preservar os laços comerciais com os chineses.

“Nós podemos fazer comércio com ambos,” disse Piñera.

Para o ex-presidente chileno, os latino-americanos precisam aprimorar suas instituições para tirar proveito da riqueza natural e deixar de lado políticas fracassadas do passado.

Piñera disse ainda que a região precisa investir mais em ciência e tecnologia, além de ampliar a abertura comercial.

“Queremos ser a Venezuela, ou queremos ser a Nova Zelândia e a Austrália?”