A Hapvida reportou um quarto trimestre com várias ‘moving parts’, incluindo uma sinistralidade em queda, ajustes contábeis nos balanços dos últimos anos e um ganho relevante fruto de um acordo com o Governo.

A companhia disse que fez ajustes nos balanços de 2016 a 2023 que geraram um impacto negativo acumulado de R$ 200 milhões, no padrão IFRS 4, um número imaterial, que representa menos de 0,4% do patrimônio líquido da empresa.

“Nessa jornada de integração, de virada de sistemas, fizemos um trabalho muito grande de nos debruçar de forma mais profunda e revisar todas as nossas linhas contábeis, e encontramos esses ajustes, que não têm efeito caixa,” o CFO Luccas Adib disse ao Brazil Journal. “Estamos melhorando as nossas estruturas de controle.”

A companhia também anunciou que fechou um acordo com o Governo Federal para renegociar passivos relativos a ressarcimentos ao SUS e multas da ANS. 

Essa negociação gerou um ganho de R$ 470 milhões, que entrou todo no quarto tri, ajudando o EBITDA em R$ 145 milhões e o resultado financeiro em R$ 325 milhões. 

Com isso, a Hapvida reportou um EBITDA de R$ 1,06 bilhão, em linha com o consenso. A margem EBITDA, que havia fechado em 10,3% no quarto tri de 2023, e subiu para 13,4%. 

A companhia reportou uma redução na sinistralidade, que caiu 250 basis points para 67,9% no trimestre, ajudada por uma maior verticalização da rede, maiores reajustes e programas de prevenção.

O CEO Jorge Pinheiro disse que foi a primeira vez que a companhia ultrapassou a barreira de 68% de sinistralidade num tri, e que essa “é a melhor sinistralidade da nossa história” desde a fusão com a NotreDame Intermédica.

Hapvida

“No ano, entregamos 69,2%, também a melhor sinistralidade para um ano da companhia combinada,” disse o CEO. 

A adição líquida de vidas foi de 20 mil no trimestre e de 5 mil no ano, acima do que o sellside esperava. 

Já a alavancagem subiu ligeiramente na comparação sequencial, saindo de 0,97x EBITDA para 1,06x. No quarto tri de 2023, a alavancagem estava em 1,43x. 

A queda sequencial teve a ver com o consumo de caixa do trimestre. A Hapvida teve um fluxo de caixa livre positivo de R$ 128 milhões — mas gastou R$ 200 milhões em recompras de ações e teve outros R$ 288 milhões negativos de resultado financeiro. 

A dinâmica dos depósitos judiciais de processos civis – que tem sido foco de atenção do mercado – não mostrou melhora. Com a divulgação de dados da ANS ontem, alguns analistas haviam projetado uma queda nesses depósitos – o que acabou não se materializando. 

A Hapvida reportou R$ 204 milhões de novos depósitos líquidos, em linha com o terceiro tri, quando havia reportado R$ 199 milhões.

Os depósitos judiciais já vinham aumentando desde o quarto tri de 2023, com os clientes da Hapvida judicializando temas ligados às coberturas dos planos e tratamentos. Mas essa realidade – comum a todo o setor – virou uma discussão maior em meados do ano passado, quando os aumentos foram mais bruscos. 

Num relatório publicado essa semana, o Citi chegou a dizer que a dinâmica da judicialização era o principal tema do resultado do quarto tri – e o grande driver para a ação no curto prazo. 

“São muitas moving parts para uma empresa que já tem sofrido muito no mercado,” disse um analista do buyside. “Acho que a call vai ser muito importante para termos uma visibilidade maior dessa dinâmica dos depósitos.”

O CEO da Hapvida disse que este resultado também marca o fim do processo de integração da GNDI, concluído em dezembro. 

“Concluímos toda essa agenda que apresentamos ao mercado há dois anos, e agora começamos 2025 com uma agenda diferente, de ampliação e qualificação da nossa rede própria e de muitos esforços na área de tecnologia, com iniciativas usando AI e robotização,” disse ele.