Numa mensagem de otimismo para o ano novo recheada de argumentos técnicos, o ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, um dos mais renomados especialistas em inflação do País, disse hoje que o ‘pessimismo generalizado’ esconde progressos inegáveis e mensuráveis feitos pelo Governo Temer, e que as coisas na economia estão menos piores do que parecem.

10153 dc0c81b2 7161 0000 0004 d336d97d84b8“Este governo, às vezes dito ‘pinguela’ e de apenas sete meses, não apenas equacionou a questão fiscal, mas está também conseguindo ancorar as expectativas de inflação no centro da meta,” Lopes escreveu no Valor Econômico, defendendo o breve histórico econômico do atual governo.
O termo ‘pinguela’ foi cunhado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para descrever o Governo Temer como uma ponte frágil entre o Governo Dilma e a eleição de 2018. Desde então, o termo foi incorporado ao vocabulário político como sinônimo da gestão atual.

Lopes discordou tecnicamente do consenso dos analistas, que hoje prevê um crescimento do PIB de 0,7% no ano que vem.  Para ele, ao medir o PIB “para todo o ano de 2017 com o PIB para todo o ano de 2016,” o consenso atual é poluído pela inércia de 2016 e “subestima a velocidade real de crescimento dentro do ano de 2017”.

 
Tecnicamente, para ele, o certo seria medir a variação percentual entre o final de 2016 e o final de 2017.  “É um ponto sutil, mas importante.” Se esta metodologia for adotada, o consenso que captura o que aconteceria ao longo de 2017 seria mais próximo de 1,7%.
 
Segundo o economista, nos últimos doze meses até novembro, a produção de automóveis cresceu mais de 20%, a de ônibus, mais de 50% e a de máquinas agrícolas colheitadeiras, mais de 80%.

“Tem algo se movendo no setor produtivo brasileiro,” disse Lopes, cuja consultoria Macrométrica projeta um PIB “próximo a 1% em 2017”, o que daria um crescimento de 2% “ao longo do ano”. 

 
“E pode-se apostar que, a partir de 2018, a economia brasileira estará num ritmo normal de crescimento, entre 2,5% e 3% ao ano.”  (Lembram como era bom?)
 
Sobre a convergência da inflação para a meta de 4,5%, Lopes disse que ela está sendo conquistada apenas através da independência e credibilidade do BC, “e o que é melhor, sem a necessidade de redução significativa na taxa de câmbio.”
 
Sobre o desemprego, Lopes disse que, entre o início de 2015 e agora, o número de pessoas desocupadas aumentou em 5 milhões, mas que metade disto são pessoas que não trabalhavam antes e, com a queda da renda familiar, começaram a procurar emprego. “O lado bom é que, quando a renda familiar começar a se recuperar, essas pessoas poderão sair da força de trabalho reduzindo o desemprego.”
 
Lopes reconhece que o curto prazo “está muito desagradável, mas isto tem mais a ver com os erros cometidos no passado do que com as boas perspectivas do futuro.” (Sim, leitores: um PhD em Harvard acaba de falar em ‘boas perspectivas para o futuro’.)

Lopes disse que a PEC do Teto é uma das três iniciativas de política econômica mais importantes dos últimos 50 anos, ao lado do Plano Real e da criação do Copom (o comitê de política monetária do BC), que instituiu de fato a independência operacional do BC.

“Recentemente, Maria da Conceição Tavares disse que numa entrevista que a medida é uma ‘construção diabólica’, e não dá pra discordar. A única divergência é que vemos isso como um elogio ao governo.”