Enquanto Carlos Fonseca era o sócio responsável pelo private equity, o BTG fez grandes negócios, como os investimentos do banco na Rede D’Or, Stone e BR Properties.  Outros, nem tanto — vide BR Pharma. 

Agora, após uma breve passagem pelo C6, o banco digital que fundou com Marcelo Kalim, Fonseca botou de pé uma companhia de investimentos alternativos. 

Batizada de Galápagos, a gestora cria produtos de crédito estruturados e está abrindo frentes em home equity — empréstimos com garantia de imóvel — e venture debt, dando crédito a startups que não conseguem linha nos bancos.10803 411efe68 46cf c7b8 073b 9d77774ecd67

Numa terceira linha de negócios, a Galápagos ficou sócia da Grafeno, uma fintech que promete trazer eficiência a um dos mercados mais analógicos dominados pelos bancos: a cobrança via boletos.

“Por um lado, os investidores querem aumentar o rendimento, tanto na Bolsa quanto em produtos alternativos de crédito e, por outro, os tomadores [de crédito] estão buscando alternativas além dos bancos,” diz Fonseca. “Estamos nos posicionando num mercado em que há demanda para ambos os lados e em que os bancos não conseguem entrar.” 

Com a Selic em queda livre e a caça ao yield na alta temporada, a Galápagos quer ser uma casa de ideias originais e produtos idem, distribuindo tanto para investidores institucionais quanto para o varejo. 

Um dos principais nichos da empresa é o home equity, a concessão de crédito para pessoas físicas tendo um imóvel como garantia, que vem sendo explorado por fintechs como a Creditas e a Pontte mas ainda representa menos de 1,5% da dívida habitacional. 

Para atuar no segmento, a Galápagos formou uma joint venture com a Wiz Seguros — a corretora listada que detém o balcão de seguros da Caixa e, mais recentemente, começou a distribuir seguros do Inter.

Na JV, chamada Wimo, a Wiz ficará encarregada da originação das operações por meio de sua rede de distribuição de 350 correspondentes e 5 mil vendedores, além da gestão da carteira de crédito, enquanto a Galápagos ficará encarregada da estruturação financeira e do funding do negócio.

No negócio de venture debt — um segmento praticamente inexistente no Brasil, onde as startups captam recursos apenas na forma de equity — a Galápagos começou a atuar com capital próprio e pretende captar um fundo.

A Galápagos assina cheques que variam de R$ 1 milhão a R$ 10 milhões e prazos de 18 a 24 meses. A Ingresse — plataforma de venda de ingressos — e duas outras startups já tomaram o crédito. 

O risco é controlado: a gestora só entra em empresas que já fizeram uma rodada series A e que tem fundos de venture capital renomados por trás, além de exigir garantias como imóveis ou recebíveis. Além dos juros, a Galápagos cobra um ‘kicker’, parte do rendimento que depende da variação do valuation antes e depois do empréstimo. 

“É um jeito de estar exposto a esse mercado mas com risco muito minimizado,” diz Andrea Di Sarno, um dos sócios da Galápagos que trabalhou com Fonseca no BTG. “E para o investidor é um tiro mais curto: ele não precisa ficar 10 anos parado num fundo de venture capital.”  

Além de Fonseca e Di Sarno, a Galápagos tem como sócios Marco Bologna — o ex-CEO da TAM e do Banco Fator — Humberto Vallone, também egresso do private equity do BTG, e Joel La Banca, ex-GP Investimentos. 

O funding é capital proprietário, mas a casa pode atrair sócios em negócios específicos.

Além dos produtos de crédito, a Galápagos também está desenvolvendo sua própria fintech, que mira — inicialmente — o mercado de cobranças. 

A Grafeno, cujo projeto Fonseca trouxe do C6, é liderada por Paulo David, o fundador da Biva — a primeira startup brasileira de empréstimos peer to peer e hoje controlada pela PagSeguro.

A ideia da Grafeno é ser uma empresa de servicing bancário, fornecendo a tecnologia para que seus clientes possam se tornar mais eficientes. “Pensa em um banco e tira toda a parte de captação e crédito. A Grafeno faz todo o resto,” diz Fonseca. 

A empresa está começando pelos boletos, que, em meio a toda revolução tecnológica, ainda funcionam de forma analógica e são caros: os bancos cobram de R$ 1,70 até R$ 7 para emitir cada boleto de cobrança, a depender do volume demandado pelo cliente. 

Os maiores clientes desse mercado são os fundos de investimento em direito creditório (FIDCs), que chegam a emitir mais de 150 mil boletos por mês. A mecânica é quase jurássica. 

“Todo mês, os fundos geram um arquivo específico (quase como um Excel), sobem no sistema do banco, rezam um pai nosso e esperam que o boleto chegue para todo mundo,” diz David. Não raro, a área de cobrança do FIDC tem que ligar para o cliente para ver se ele recebeu o boleto. 

Com a tecnologia desenvolvida pela Grafeno, o cliente vai registrar a duplicata ou a cobrança no sistema — e com um clique, a empresa se encarrega da cobrança, seja via boleto, TED, DOC, SMS ou Whatsapp. De largada, a Grafeno já consegue reduzir o preço da cobrança para FIDCs em 25% e a expectativa é que o preço diminua ainda mais, conforme o volume for aumentando.

Todo grande cobrador, de operadoras de plano de saúde a administradoras de condomínios, é um cliente em potencial.

Além de ser uma instituição de pagamento, a Grafeno é dona de uma registradora em processo de certificação pelo Banco Central. Por sua vez, a registradora é sócia do SPC – o que lhe dá acesso a informações de 400 mil CNPJs ligados a confederações de comércio. 

O serviço diminui o risco de fraude no crédito, já que centraliza o registro de duplicatas e cédulas de crédito bancário de forma independente — impedindo que esse títulos sejam dados como garantia ou cedidos mais de uma vez. “Isso vai reduzir o custo do crédito, já que hoje a maior parte das informações estão concentradas em cada um dos bancos”, diz Fonseca.