Até agora, a CVC ficou para trás no bull market de 2019 — e para alguns gestores, isso é uma oportunidade de compra.

Até segunda-feira, antes do feriado, a ação da maior operadora de viagens do Brasil caía 20% no ano, enquanto o índice Bovespa subia 19%.  Hoje, o papel sobe 4% com um volume mais que o dobro da média.

O problema da CVC: a quebra da Avianca, que fortaleceu o poder de barganha das companhias aéreas, fornecedoras de assentos para os pacotes da operadora.

“A CVC conseguia bons descontos com a Avianca, e por motivos óbvios: a Avianca estava sempre precisando de dinheiro, e a CVC aproveitava para comprar volume,” diz um acionista da operadora.

Com a debacle da companhia dos Efromovich, aquele pé na areia de Cumbuco ou aquele coco gelado em Maragogi ficaram mais caros e….“o passageiro de lazer é muito sensível e se ressente da alta do preço,” diz um gestor.  “O viajante de negócios absorve a alta, mas o turista doméstico deixa de viajar.”  Metade dos bookings da CVC vem do segmento de lazer, metade do viajante de negócios.

Gestores que estão comprando ações agora notam que o problema é temporário, e que já está no preço.

No começo do ano, a CVC negociava a 22 vezes o lucro estimado para os próximos 12 meses; agora, negocia a pouco mais de 17 vezes.

Em maio, ao anunciar seu resultado do primeiro trimestre, a CVC disse que tinha R$ 100 milhões em reservas com a Avianca ainda não voadas.  Tirando o imposto de renda de 34%, se nenhuma passagem fosse honrada, a CVC teria um prejuízo de R$ 66 milhões — comparado a um lucro este ano estimado entre R$ 350 milhões e R$ 400 milhões pelo consenso de mercado.

Enquanto as companhias aéreas estão lavando a égua proverbial — as passagens já subiram até 70% em algumas rotas — essa adrenalina não é sustentável.

Em rotas como Salvador, Recife e Natal, a Avianca está fazendo falta. A alta dos preços teve início em janeiro, quando a Avianca começou a claudicar e reduzir sua oferta. A companhia parou de voar no final de abril.

“Tem muita demanda nestes lugares e tem muito dinheiro na mesa — alguém vai pegar,” diz um gestor.

Fontes do setor de turismo dizem que as aéreas estão se movimentando para recompor a oferta perdida com o fim da Avianca.  “Tem gente trazendo avião da Ásia, outros tentando ficar com aviões da própria Avianca.”  No segundo semestre, “os preços já devem estar mais razoáveis,” diz um hoteleiro do Nordeste que monitora os preços de passagens no dia a dia.

 
A CVC traz um tipo de demanda que é bom para as companhias aéreas.  Por um lado, as passagens de lazer são compradas com muita antecedência, trazendo previsibilidade ao planejamento das voadoras.  Por outro lado, o cliente de lazer viaja em horários que o cliente business não quer.

A recuperação da CVC também deve vir de seu poder de barganha com os próprios hoteleiros de praças onde a Avianca era mais forte.

Além de estar conseguindo termos mais favoráveis com estes hoteleiros, a CVC está usando seu balanço para fretar vôos e suprir a oferta que desapareceu com a Avianca.  O dono de um hotel numa capital nordestina disse ao Brazil Journal que elevou sua ocupação média em junho (ainda baixa temporada) de 55% para 80% fazendo acordos deste tipo com a operadora. 

Também há evidência empírica de que a CVC está reforçando sua rotas de ônibus amarelos conectando capitais nordestinas, complementando a oferta no turismo regional.

 
Não está claro se este movimento é pontual — ligado à Avianca — ou se é parte da estratégia de interiorização da CVC. Até o final de 2015, a CVC só tinha lojas em cidades com mais de 100 mil habitantes.  A partir dali, começou a baixar a régua.  No ano passado, já abria em cidades com menos de 50 mil habitantes e, este ano começou a penetrar municípios entre 20 mil e 30 mil habitantes.
 
Neste ano, no feriado de Corpus Christi, a oferta de ônibus da empresa aumentou em cerca de 30%.