Os aviões da Azul estão quase todos no chão, mas Giuliano Podalka está trabalhando ‘non stop’.
Nos últimos dias, o gerente de novos projetos da empresa tem deixado a mulher e os três filhos em casa para ricochetear entre o Rio de Janeiro, Curitiba, Goiânia e Recife.
A missão de Giuliano: instalar um novo sistema de embarque nos aeroportos que vai reduzir as aglomerações de pessoas e o tempo de embarque — uma de várias iniciativas da companhia aérea para atrair de volta os clientes preocupados em voar na era covid.
Chamada de Tapete Azul e desenvolvida pela Pacer, uma startup curitibana, a tecnologia já estava sendo testada antes da pandemia deixar os aeroportos desertos e as aéreas, de joelhos.
Até o fim do ano, o Tapete Azul estará em cerca de 100 portões de embarque de 18 aeroportos do Brasil, cobrindo 70% dos voos domésticos da Azul.
Na prática, o sistema projeta um tapete na fila de embarque que indica a posição exata de cada passageiro na aeronave e o momento em que ele deve embarcar, acabando com o velho problema das filas intermináveis.
Além da tecnologia, o hardware é complexo: para cada portão de embarque, a Azul precisa instalar um kit de 12 projetores, quatro câmeras e dois telões.
Depois da pandemia, a Azul dobrou a distância entre os passageiros no tapete — de dois para quatro metros — e começou a chamar os consumidores para o embarque de forma intercalada, tornando o processo ainda mais fluido e reduzindo as aglomerações.
Segundo dados da Infraero, os passageiros ficam cerca de 20 minutos de pé na fila no embarque tradicional; com o Tapete Azul, essa espera cai para um décimo. O passageiro acompanha o tapete por dois monitores de TV de 49 polegadas, e, se estiver sentado, só se levanta quando seu lugar na fila aparece na tela.
O resultado: o Tapete Azul já reduziu em 25% o tempo médio do embarque — mas a Azul acha que a produtividade pode chegar a 50% conforme a tecnologia for mais integrada a seus sistemas.
A história do Tapete Azul começou — tinha que ser — durante uma viagem de avião.
Há um ano e meio, Ricardo Pocai, o fundador da Pacer, levou mais de 30 minutos para embarcar no avião numa viagem de Curitiba para São Paulo. Na volta, inconformado com o sistema pouco eficiente, o empreendedor começou a observar e anotar como era feito o embarque dos passageiros em Congonhas, e chegou em casa com o ideia do Tapete Azul praticamente pronta.
“É um sistema inédito no mundo e difícil de desenvolver tecnologicamente,” Pocai disse ao Brazil Journal. “A grande questão é que quando as pessoas sobem no tapete, não é o tapete que se movimenta e faz elas andarem. É o movimento das pessoas que faz o tapete ir se movendo.”
Para garantir essa sincronia perfeita, a startup teve que criar uma inteligência artificial que, integrada às câmeras do sistema de embarque do portão, registra o movimento das pessoas e manda essa informação para os projetores, que fazem o tapete se mover.
Pocai passou sete meses desenvolvendo o sistema antes de ligar para o superintendente do Aeroporto Afonso Pena e pedir para testar a tecnologia no embarque. Assim que viu o piloto funcionando, a Azul correu pra fechar um contrato de exclusividade de dois anos. (Se quiser vender a tecnologia para os concorrentes nesse período, a Pacer terá que dividir a receita com a Azul).
Na aviação internacional, existem seis métodos de embarcar passageiros, com problemas e graus diferentes de sucesso.
O primeiro — e o pior deles — é o que embarca primeiro os passageiros da frente e depois os de trás da aeronave. Isso cria barreiras no fluxo de entrada e atrasa o processo.
O segundo método é aquele que divide a aeronave em dois grupos (de 1 a 15 e o de 15 a 30) e tenta embarcar primeiro o fundo da aeronave e depois a parte da frente. Como cada grupo é embarcado junto, o passageiro da fileira 19 atrapalha a entrada do passageiro da 30, gerando aglomerações localizadas.
O terceiro é o embarque randômico, que a Azul usa um pouco. Ao randomizar o embarque, a companhia aérea tenta evitar os problemas do método de grupos.
Há ainda o método que separa os grupos de embarque por janela, meio e corredor. (A LATAM usa este método no Brasil, mas as prioridades para cartões fidelidade estragam o processo.)
O quinto sistema é o adotado pela Southwest, que permite que cada passageiro escolha seu assento quando entra na aeronave (quem comprou primeiro tem prioridade na entrada).
O Tapete Azul se inspira numa sexta abordagem, o chamado ‘método Steffen’, desenvolvido pelo físico Jason Steffen e que mescla todos esses processos de maneira matemática. O Steffen faz o embarque de trás para frente, separando por janela, meio e corredor, mas pula três ou quatro fileiras entre os grupos.
Pocai, o fundador da Pacer, já está trabalhando para aperfeiçoar o Tapete Azul: quer incluir um sistema de biometria facial que vai reconhecer os passageiros enquanto eles estiverem andando no tapete.