Junte uma crise política de derrubar presidente, uma recessão brutal e incerteza regulatória flamejante, e o que você tem?
Uma taxa de retorno espetacular.
O Farallon Capital vendeu ontem a Piratininga-Bandeirantes Transmissora de Energia (PBTE) por R$ 1,88 bilhão para a ISA CTEEP, num desinvestimento que mostra os resultados de uma aposta contrária num momento do proverbial sangue nas ruas.
(Deu certo, mas cuidado ao tentar isso em casa.)
A PBTE — uma linha de transmissão subterrânea de 15 quilômetros que atravessa o Rio Pinheiros em São Paulo e corre paralela à Marginal — foi leiloada em abril de 2016.
O Brasil estava a um mês do início do processo de impeachment, já mergulhado numa recessão épica, e o setor elétrico ainda sofria as consequências da MP 579, a intervenção de Dilma Rousseff que, ao tentar baixar as tarifas na marra, acabou espetando uma conta de R$ 200 bilhões nos consumidores.
Além da turbulência macropolítica, o projeto ainda enfrentava outro desafio: era a primeira linha de transmissão subterrânea de alta voltagem, cortando a região metropolitana mais populosa do País.
Na época, um consórcio formado pela MPE (uma empresa de montagem do Rio) e a Kavom (uma empresa criada para investir no setor elétrico) foi o único ofertante no leilão.
Quando procuraram alguém que lhes desse o ‘performance bond’ (o seguro que garante que a obra será concluída), bateram na porta da Pottencial Seguradora. Ao ver que o projeto era uma mina de ouro, Carlos Geo Quick, um dos sócios da seguradora, ficou com 50%.
No ano seguinte, sem capital para executar a obra, o grupo buscou financiamento com o Farallon, que ficou com 93% do equity, financiou o capex e deu ao consórcio original um earnout substantivo no projeto, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. (Na prática, a participação econômica do fundo ficou em 34%.)
O retorno foi obsceno.
(No mesmo leilão, um fundo de infraestrutura do Pátria Investimentos também levou um pacote de linhas de transmissão aéreas no Norte e Nordeste que se transformou na Argo Energia, vendida há um ano para a Red Elétrica da Espanha por R$ 3,5 bi.)
“No final, as bobagens da Dilma criaram projetos com alguns dos retornos mais interessantes que o País já viu,” disse uma pessoa envolvida com o projeto, que está sendo visto no setor como a melhor relação receita/capex da história recente.
Quatro anos depois, a CTEEP pagou R$ 1,59 bilhão pelo equity, e está assumindo uma dívida líquida de R$ 292 milhões.
A CTEEP é a maior operadora de linhas de transmissão do País e vale quase R$ 18 bilhões na B3.