O governo brasileiro investiga a ocorrência de um caso atípico do “mal da vaca louca” (bovine spongiform encephalopathy, encefalopatia espongiforme bovina), em um animal no estado do Pará.

Laudos realizados no Brasil deram positivo para a variedade atípica da doença, e agora o Ministério da Agricultura aguarda o resultado da contraprova enviada ao Canadá.

Se houver a confirmação canadense, as exportações de carne bovina para a China devem ser suspensas.

A existência de um protocolo sanitário assinado entre os dois países em junho de 2015 obriga o Brasil a comunicar o caso a Pequim e promover um auto-embargo nos embarques, com a suspensão imediata das exportações.

O embargo é temporário, mas o tempo de duração é indeterminado – e é neste ponto que mora a preocupação de indústrias como JBS, Marfrig e Minerva.

A última vez que um caso foi confirmado no Brasil foi em 2021. As exportações foram suspensas entre setembro e dezembro daquele mesmo ano, com o preço médio de exportação da carne bovina caindo 20% naquele período.

Dois anos antes, 2019, um outro caso atípico foi confirmado, e o protocolo também foi acionado – mas naquela ocasião o embargo durou apenas 13 dias, sem grandes prejuízos à cadeia.

O motivo para a diferença de tempo para solucionar o problema nos casos de 2019 e 2021 foi apenas um: política. Quatro anos atrás, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda não havia se mostrado tão combativo em relação à China.

No caso mais recente, a mudança de postura do ex-presidente dificultou a retomada das exportações, que levou 103 dias para ocorrer.

Agora, Lula se prepara para visitar Pequim no fim de março, e um tom conciliador estará à mesa na ocasião. A expectativa de frigoríficos e grandes produtores é que, diferente de 2019, o embargo seja muito mais breve.

Do ponto de vista sanitário, casos atípicos de BSE não representam qualquer tipo de risco à saúde pública. Sob o olhar econômico, também não deveriam representar, não fosse o acordo sanitário mal feito com a China em 2015 – e nunca renegociado – que obriga o Brasil a fazer o auto-embargo.

Deixar de vender para a China passa a ser um problema, em especial para os frigoríficos com operações restritas ao Brasil. No ano passado, os embarques somaram 2,15 milhões de toneladas, dos quais 1,23 milhão – 57% do total – foram para o mercado chinês.