Carta-a-Petrobras-VEJA-Mercados

Exmo. Sr.
Ivan Monteiro
Diretoria Financeira
Petróleo Brasileiro S.A.
Av. República do Chile, nº 65
Centro – Rio de Janeiro
20031-912

CC: Aldemir Bendine
Luciano Coutinho
Luiz Navarro
Segen Farid Estefen
Roberto da Cunha Castello Branco
Luiz Nelson Guedes de Carvalho
Guilherme Affonso Ferreira
Walter Mendes de Oliveira Filho
Deyvid Bacelar

Ref: BR Distribuidora

Prezado Ivan:

Todo os brasileiros têm assistido pela imprensa a seus esforços nada menos que heróicos na tentativa de salvar esta que é, para uns, um emblema da Pátria; para outros, o símbolo de tudo o que está errado com nossa economia protocapitalista, cartorial, cartelizada e estatista.

A coluna sabe que, nesta empreitada, o senhor tem colocado em risco até mesmo sua saúde, já tendo sido atendido pelos serviços médicos da Petrobras pelo menos três vezes desde que assumiu o cargo em fevereiro.

Assim, o único objetivo desta carta pública é contribuir com uma ideia tão singela quanto poderosa — capaz até mesmo de melhorar a percepção pública sobre a Petrobras, e sem que a empresa gaste um real de publicidade sequer.

Como a imprensa já relatou amplamente, quando estuda a melhor forma de arrecadar recursos com a BR Distribuidora, a Petrobras tem se visto refém de duas opções.

A primeira, que já se provou inviável, seria o IPO, no qual a Petrobras venderia 20-25% da BR na Bolsa. Mas como se sabe, para comprar ações de uma empresa os investidores querem ver um plano de negócios redondo e um time de executivos experientes para executá-lo. Infelizmente, a Petrobras não tem nem um nem outro. Está difícil arranjar gente boa que compartilhe do seu espírito público e aceite trabalhar numa estatal ligada à Petrobras. Outro problema é que, na ausência de um bom plano e de bons gestores. os investidores de Bolsa vão pagar pela BR um valor bem abaixo do que pagam por suas principais concorrentes — a Ultrapar (dona dos postos Ipiranga), e a Raizen (a joint venture da Cosan com a Shell) — o que significaria que a Petrobras deixaria dinheiro na mesa.

A segunda opção aventada seria vender os 20-25% para um ‘investidor estratégico’. É outra missão inglória com resultados previsivelmente sub-ótimos. Como encontrar alguém do ramo de distribuição de combustíveis que — de novo — queira ser sócio minoritário da Petrobras? Essa operação, se acontecer, tem tudo para cair no colo dos chineses, japoneses, ou outros sócios tradicionalmente passivos da Petrobras, que entrarão no negócio apenas para marcar posição num ativo relevante e porque têm abundância de capital para investir. Não farão nenhuma reforma profunda na empresa, não aumentarão sua produtividade, não conseguirão nada.

A coluna vem, por meio desta, propor uma outra saída.

A Petrobras deveria chamar os principais fundos de private equity do mundo — aqueles com comprovada experiência em empresas de varejo — e colocar em leilão nada mais que 5% (cinco por cento) da BR Distribuidora.

Estamos falando de gente acostumada a apostar bilhões de dólares (e tecnologia de gestão) na compra e no ‘turnaround’ de empresas. Sugerimos chamar o Carlyle, KKR, Blackstone, Advent, General Atlantic, TPG, Apax, Apollo… quem sabe até a 3G Capital se interessa?

Mas o que vem agora é muito importante. O contrato de venda destes 5% diria o seguinte: ‘Nos próximos 10 anos, o novo sócio terá o direito de nomear o CEO, CFO e todos os diretores da BR Distribuidora.’  Mais: no conselho de administração da BR, a Petrobras indicaria apenas quatro de dez conselheiros. O novo sócio não poderia vender nenhuma ação nos próximos cinco anos, e depois poderia vender um quarto de suas ações a cada ano. Assim como na Vale, para conforto dos nacionalistas, a União teria uma ‘golden share’ com direito a veto em decisões estratégicas , mas poder nenhum sobre o dia-a-dia da empresa.

A beleza deste negócio é que não se trata de uma privatização, e sim de uma ‘higienização.’

A Petrobras permaneceria dona de 95% do negócio — que continuaria orgulhosamente estatal — mas não apitaria mais na gestão da BR.  Deputados, senadores e partidos políticos não teriam direito de nomear nem um estagiário — até porque, num país sério, a gestão desta empresa não deveria ter nada a ver com política.

Esta saída teria dois efeitos profundamente positivos: a BR Distribuidora passaria a ser gerida como um negócio capitalista, e não como a casa da Mãe Joana (ou da Dinda). Isso geraria muito valor na BR, e faria com que as ações da Petrobras se apreciassem imediatamente, mesmo antes do leilão acontecer.

A mensagem enviada por uma atitude assim seria clara, e ajudaria a Petrobras a recuperar parte de sua credibilidade depois que a empresa se tornou sinônimo de escândalo.

A coluna torce para que o senhor, com o apoio da diretoria e do conselho, tenha o bom senso e o capital político para implementar esta pequena revolução — para o bem da empresa, de seus acionistas e da sociedade brasileira.

Poucos têm o privilégio de poder servir ao País (ainda que muitos já tenham se servido dele) como diretores ou conselheiros da Petrobras. Façam valer a pena.

Com votos de dias melhores,

GS