No início do mês, o conselho de administração da Petrobras decidiu ir adiante com a oferta de ações da BR Distribuidora, uma operação que pode levantar até 10 bilhões de reais para o caixa da estatal com a venda de 25% da maior rede de postos de combustíveis do País. Murilo Ferreira 

Mas dois conselheiros se manifestaram contra, e um deles fez grandes ressalvas.

A nota dissonante mais forte veio do presidente do conselho, Murilo Ferreira. “A BR Distribuidora precisa inicialmente contratar profissionais com experiência em varejo altamente qualificados, que formatariam novo plano de negócios e gestão para a BR, para depois formatar a venda”, disse ele, de acordo com a ata da reunião.

Outro conselheiro, Guilherme Affonso Ferreira, que representa os preferencialistas, foi contra o IPO nos moldes propostos, mas concordou que a empresa desse prosseguimento aos trâmites para a operação.

Deyvid Bacelar da Silva, representante dos funcionários no conselho, tem um viés natural contra a Petrobras vender (qualquer coisa), mas justificou seu voto contra ancorado numa realidade econômica: disse que “o momento não é propício” já que “o mercado está repleto de ativos”. Para ele, a BR “poderia apenas aprimorar sua governança e, no máximo, formar joint-ventures para maximizar certos negócios, como as lojas de conveniência e o cartão fidelidade.”

A manifestação de independência por parte de Murilo Ferreira, um conselheiro afinado 100% com o Planalto, mostra que pelo menos parte da governança da Petrobras evoluiu de fato, seja por convicção ou pela força das circunstâncias.

A má notícia é que a empresa tem pressa, e o IPO da BR será tocado, ironicamente, da mesma forma que o PT acusava o governo Fernando Henrique Cardoso de fazer as privatizações: a toque de caixa. O IPO é parte de um plano em várias frentes para salvar a empresa, cuja situação fica cada vez mais frágil com o dólar a R$3,50.

No centro do debate que rachou o conselho está uma pergunta simples: quanto os investidores aceitarão pagar por uma empresa que é controlada por uma estatal cujo histórico inclui nomear afilhados políticos para suas diretorias e cuja política de preços depende mais da vontade de Brasília do que das realidades econômicas?

Dadas as circunstâncias de sua crise épica, não seria melhor a Petrobras responder à altura, quebrar o tabu e vender o controle da BR numa concorrência internacional — aí sim, capturando um prêmio de controle estratosférico?

O Governo não quer saber dessa história. Tanto o CEO da Petrobras, Aldemir Bendine, quanto o CFO, Ivan Monteiro, mantêm que é possível obter um “preço adequado” vendendo uma fatia minoritária na BR, e usam como exemplo o IPO da BB Seguridade, que ambos executaram com sucesso quando eram, respectivamente, o No. 1 e o No. 2 do Banco do Brasil.

Aldemir Bendine Mais: Monteiro acha que é possível vender a BR nos mesmos múlltiplos de preço que o mercado paga pela Ultrapar, a dona dos postos Ipiranga que é o ‘benchmark’ de excelência operacional quando o assunto são postos de combustível.

Na Bovespa, a Ultrapar negocia a 21 vezes seu lucro estimado para 2016. Se o IPO da BR Distribuidora saísse a este múltiplo, a estatal teria um valor de mercado de aproximadamente 40 bilhões de reais.

Aos que têm um acesso de riso com a ideia de que o mercado vai pagar preços de Ultrapar pela BR, Monteiro nota que a BR é a responsável pelo fornecimento de óleo combustível para as usinas termelétricas, um negócio com margens altas e que a Ultrapar, por sua vez, não tem. (O que ele geralmente não menciona é que a BR tem um grande ‘contas a receber’ com estas térmicas, que têm atrasado pagamentos.)

Monteiro nota ainda que a BR é muito pouco sofisticada nos negócios que cercam seus postos de combustíveis — lojas de conveniência, farmácias, entre outros — e que os investidores terão muito a ganhar quando estes negócios ficarem mais redondos, com o tempo. Isto evoca a velha pergunta: por que pagar (agora) preços de Ultrapar por uma empresa que só será como a Ultrapar daqui a alguns anos?

Para obter a resposta, talvez seja preciso perguntar lá no posto Ipiranga.

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Os investidores também vão olhar com lupa se (e como) a BR vai proteger seus acionistas minoritários dos profissionais da política, evitando que meu colega Lauro Jardim tenha que sofrer a insalubridade trabalhista de ter que escrever notas assim:

 

RadarLauroPetro