O BTG Pactual acaba de reportar um trimestre com receita e lucro recordes — batendo as expectativas do mercado mesmo em meio a um ambiente de alta de juros, volatilidade insidiosa e deterioração da liquidez internacional.
O lucro líquido do banco subiu 72% na comparação anual, chegando a R$ 2,1 bilhões. Em relação ao quarto tri, a alta foi de 20%.
A receita líquida subiu 56% para R$ 4,4 bilhões – outro patamar histórico.
Os números devem surpreender o mercado. O sellside projetava crescimento, mas num ritmo sensivelmente menor. No Itaú BBA, o analista Pedro Leduc esperava uma receita de R$ 3,7 bilhões com lucro de R$ 1,7 bi.
O resultado evidencia a resiliência do modelo de negócios do banco, com uma área compensando a fragilidade temporária de outra e permitindo que o banco performe em qualquer ambiente de mercado.
Praticamente todas as verticais do BTG tiveram resultado positivo.
O Wealth Management quase dobrou a receita; Sales & Trading cresceu 83% e atingiu uma receita de R$ 1,48 bilhões – seu melhor resultado desde 2016 – em parte graças a uma aposta acertada do banco de que o Fed estava mais behind the curve do que o mercado imaginava; ainda assim, o BTG manteve seu value-at-risk (VaR) em 0,32% do patrimônio líquido médio, acima dos 0,18% do quarto tri mas ainda abaixo da média histórica.
O negócio de Crédito Corporativo e PME teve alta de 47% na comparação anual, e a receita da Asset cresceu 18%.
A única exceção foi o Investment Banking, que faturou R$ 351 milhões, uma queda de 15% em relação ao quarto tri e de 27% em relação ao primeiro tri do ano passado.
A hibernação dos IPOs e follow-ons afetou a receita do ECM, mas M&As e DCM [estruturação e distribuição de dívidas] suavizaram em parte a queda.
O resultado recorde do BTG vem num trimestre em que outros players financeiros sofreram com a dinâmica mais desafiadora do mercado. A XP, por exemplo, viu uma desaceleração em seu crescimento, o que derrubou a ação em 10% no dia do resultado.
Apesar das condições de mercado, o BTG disse que captou R$ 52 bilhões em net new money no trimestre, um ritmo abaixo dos R$ 64 bilhões do quarto tri mas ainda assim robusto, com a procura por instrumentos de renda fixa compensando o desinteresse por equities. O banco agora tem mais de R$ 1 trilhão em ativos sob custódia e sob gestão.
O retorno sobre o patrimônio líquido ajustado atingiu 21,5% no trimestre — 2,1 pontos percentuais acima do quatro tri e o melhor retorno em seis anos. Já o índice de Basileia do banco, que tipicamente fica de 100 a 200 pontos-base acima dos peers de varejo, fechou em 15% (contra 15,7% no quarto tri).
Com os números de hoje, o BTG negocia a 2,15x book e a cerca de 11 vezes o lucro previsto para este ano. O banco fechou a semana valendo R$ 84 bilhões na B3.