A Ânima Educação acaba de comprar a UniAGES, uma escola com 5,6 mil alunos na Bahia e Sergipe, marcando sua entrada estratégica no Nordeste por meio de uma universidade de referência e aumentando sua exposição a cursos de medicina.
A Ânima vai pagar R$ 150 milhões à vista (dos quais R$ 35 milhões em ações), mais um ‘earnout’ que deve chegar a R$ 50 milhões.
Com sede no município de Paripiranga, a 360 km de Salvador e 110 km de Aracaju, a UniAGES tem sete campi e é a instituição dominante numa região com 1,2 milhão de habitantes. A empresa deve faturar R$ 80 milhões e gerar R$ 20 milhões em caixa este ano.
Esta é a primeira aquisição da Anima desde dezembro de 2015, quando a empresa pagou R$ 150 milhões pela Sociesc, no sul do País.
A compra da UniAGES fortalece o cluster de medicina da Ânima num momento em que o mercado de capitais está disposto a pagar múltiplos mais altos por empresas com mais vagas de medicina. O catalisador deste processo: o IPO da Afya Educacional, que com 1.352 vagas de medicina, estreou na Nasdaq valendo US$ 1,7 bilhão.
Depois desta aquisição, e incluindo cursos a serem abertos nos próximos meses, a Anima terá 535 vagas de medicina até o final deste ano — 40% do que a Afya tem hoje. O chairman da Anima, Daniel Castanho, disse ao Brazil Journal que a companhia pretende continuar agregando cursos de medicina no curto prazo.
“Há dois anos, a Anima escolheu a área de saúde como um de seus verticais principais, juntamente com gestão e tecnologia,” disse Castanho. “Agora estamos fortalecendo essa vertical, que é gerida por uma equipe especializada, com dedicação exclusiva e vasta experiência na implantação e autorização de mais de 50 cursos de Medicina no Brasil ao longo dos últimos anos.”
Segundo o JP Morgan, assumindo que os outros cursos mereçam um múltiplo de 9x EV/EBITDA, o IPO da Afya sugere que o mercado está disposto a pagar R$ 4,2 milhões por vaga de medicina. Com base nestes números (e antes da aquisição de hoje), o banco calculou que a ação da Anima deveria subir 37%, e a da Estácio, 30%, para serem avaliadas em linha com a Afya.
O Professor José Wilson dos Santos começou a UniAGES em 1982 como uma escola infantil. Logo depois, avançou para o ensino médio até abrir a primeira faculdade em 2001. De lá para cá, a UniAGES chegou a ter 8 mil alunos em Paripiranga, uma cidadezinha de apenas 7 mil habitantes. (Os alunos vem de um raio de até 700 km.)
Nos anos seguintes, a universidade penetrou outros seis municípios, levando uma infraestrutura física sem paralelo na região e um diferencial pedagógico, o chamado “método ativo”, em que o alunos são desafiados a resolver um problema real, em vez de passivamente receber o conteúdo transmitido pelo professor.
“Quando começamos, não existia a cultura do ensino superior aqui no semiárido,” disse Wilson. “Nosso maior desafio foi formar essa cultura.”
A UniAGES tem um modelo de gestão participativo, em que as decisões são colegiadas, e se orgulha do índice de empregabilidade de seus alunos, que já foi de 99% e hoje está em 90%.
Vários grupos de educação manifestaram interesse pela UniAGES. “Para tomar essa decisão de parceria, eu dialoguei com três,” disse Wilson. “Decidi pela Anima porque foi quem melhor apresentou uma política de tratamento diferenciado dos funcionários. Confesso que, em termos de números, tive propostas bem melhores, mas eles apresentaram o que era melhor para os funcionários.”
Agora, Wilson pretende usar a liquidez para investir em inovação na educação básica, “trazendo modelos da Coreia do Sul, Finlândia e Dinamarca e pensar um modelo de escola básica para o Brasil que forme crianças com perfil empreendedor e com valores.”
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