SANTA CLARA, Califórnia — Seja por razões econômicas ou geopolíticas, pressionar o botão “pause” não é a melhor maneira de enfrentar os possíveis riscos da inteligência artificial, disse Alexandr Wang, o fundador e CEO da Scale AI.

Wang não tinha 20 anos quando decidiu abandonar o MIT e abrir a sua empresa de IA, fundada em 2016. Com a Scale AI, avaliada hoje em mais de US$ 7 bilhões, ele se tornou aos 24 anos o mais jovem bilionário self made da lista da Forbes.

A Scale AI ajuda grandes companhias a acelerar a coleta e o processamento de dados que serão utilizados por softwares e ferramentas de IA.

Falando no Brazil at Silicon Valley sobre a democratização da inteligência artificial, Alexandr disse que estamos diante do despertar de uma tecnologia “tremendamente poderosa” – particularmente a inteligência artificial generativa, capaz de criar conteúdos complexos que replicam a criatividade humana.

Para ele, isso abre possibilidades de inúmeras aplicações em benefício da sociedade. “Os modelos estão ficando menores, poderão ser rodados nos celulares,” disse Wang.

O empreendedor disse que é “um tanto distópico” imaginar os aplicativos conversando uns com os outros, em inglês. Mas isso que passará a ocorrer em breve, com dezenas de milhões de aplicativos interagindo uns com os outros.

Naturalmente, isso traz riscos não triviais, como muitos líderes do mundo tech vem alertando. “Mas pressionar o ‘pause’ não é o caminho,” disse ele. “Não podemos dar ‘pause’ porque outros países não vão pausar.”

Ao lado de Wang no painel estava o veterano programador Peter Norvig, ex-Google, professor de Stanford e um dos autores de Inteligência Artificial – Uma Abordagem Moderna.

Segundo Norvig, as empresas e as associações já vêm trabalhando em diretrizes e códigos de conduta para estabelecer princípios de autorregulação para a tecnologia de IA.

“Pausar não é a melhor saída,” concordou Norvig. “Precisamos manter o desenvolvimento.”

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Sobre o impacto no mercado de trabalho, Wang disse que a IA pode elevar a sociedade para um novo padrão, eliminando atividades que poderão ser substituídas pelos novos sistemas.

“Quase toda a ocupação será impactada de alguma maneira,” afirmou. “Os trabalhadores terão que aprender a usar essas ferramentas, o que os ajudará a construir coisas mais complexas.”

Norvig concordou, mas demonstrou preocupação quanto ao ritmo da transformação – que, se for muito acelerada, poderá causar problemas sociais. O pesquisador citou ainda o receio de uma maior concentração de riqueza com a potencialização do efeito “winner takes all”

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Em outro painel, Angela Strange, a veterana do Google que hoje é sócia da Andreessen Horowitz, deu suas razões para seu otimismo com o potencial das startups no Brasil, especialmente as fintechs. 

Segundo ela, há um grande potencial para escalar os serviços financeiros no Brasil, maior do que nos Estados Unidos “muitas vezes.”

Angela escreveu recentemente o artigo Brazil’s Surprise Fintech Tailwind, em que fala do “vento de cauda” para as startups de serviços financeiros criado pelas mudanças regulatórias.

No texto, ela analisa como o acesso a serviços financeiros subiu de 57%, em 2009 para 86% da população hoje, graças a “centenas de startups”. 

“Gostaria que os EUA copiassem o Brasil, foi incrível o que acotenceu,” ela disse à plateia da BSV. “É incrível ver como o Pix é comentado no Vale do Silício”.

Angela elogiou o fato de a plataforma comum ser mandatória para os bancos e gratuita para os clientes, e desenvolvida pelo Banco Central. “Nos EUA, compensar um cheque demora três dias – e as pessoas que mais são afetadas por isso são aquelas que mais precisam dos recursos,” disse.

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Ao responder uma questão sobre como comparar os fundadores de startups do Brasil com os dos EUA, Angela deu uma sugestão: os brasileiros precisam melhorar o pitch, investir no storytelling e criar narrativas mais sedutoras.

“Os americanos às vezes fazem apresentações muito boas, mas, quando olhamos debaixo do capô, vemos que o serviço desenvolvido por uma startup brasileira é muitas vezes melhor,” disse Angela.

O repórter viajou a convite da Brazil at Sillicon Valley.