Quando precisa criar uma nova campanha, um grande anunciante hoje tem que seguir um de dois caminhos: contrata uma agência ou tenta encontrar profissionais em meio a um oceano de freelancers, num processo quase intuitivo e com pouca informação.

Para tirar o anunciante desta escolha binária, uma nova startup está tentando reorganizar o ecossistema da indústria criativa, fazendo a ponte entre grandes anunciantes e profissionais qualificados que tenham passado por seu algoritmo de aprovação.

10717 86e43e23 afe7 b1c9 fa25 85fa567cc353Criada por Beto Sirotsky e Daniel Prianti, dois empreendedores que já fundaram e venderam suas agências, a Boutique-Pool (BPool para os íntimos) é um marketplace que conecta essas duas pontas, trazendo novos formatos de contratação, remuneração e concorrência.

As boutiques de publicidade e hubs de conteúdo se cadastram na plataforma e passam por um processo seletivo antes de ficar disponíveis para os clientes. Quando as empresas definem o serviço que estão procurando, um algoritmo proprietário analisa as características da marca e do projeto e faz o match entre o cliente e as três agências que melhor se enquadram naquele trabalho.

O preço de cada serviço é predeterminado pela plataforma, permitindo que a empresa concentre a decisão apenas no portfólio e na afinidade com a agência. Em outras palavras: como não há barganha de preço entre as partes, a escolha é baseada na análise técnica.

“Algumas marcas não querem mais gastar fees mensais altíssimos com as agências e preferem trabalhar por projeto,” Prianti disse ao Brazil Journal. “Na outra ponta, tem muita gente boa que saiu das grandes agências e abriu suas próprias empresas, com estruturas pequenas, mais próximas do cliente e com preços competitivos.”

Geralmente, as grandes empresas sofrem para conseguir trabalhar com parceiros menores. Além da dificuldade de encontrar agências de qualidade e confiáveis, muitas vezes o anunciante não consegue homologar o parceiro escolhido em sua área de compras. Com a BPool, o anunciante precisa homologar apenas a plataforma, o que facilita o processo.

Com um mês em operação, a BPool já atende 15 clientes, tais como a Ambev, Tecnisa, Rappi e Agibank. Do outro lado, 80 agências de publicidade e hubs criativos integram a plataforma e outros 250 esperam aprovação.

O modelo é igual ao dos marketplaces tradicionais: a BPool fica com 10% de tudo que for transacionado na plataforma e repassa o restante aos parceiros. Sirotsky e Prianti também estão pensando num modelo de monetização alternativo: cobrar uma assinatura mensal das empresas pelo uso do serviço.

Mas em vez de um simples marketplace, os fundadores enxergam a BPool como um “market network,” um novo modelo de negócios que, além de combinar os principais elementos de um marketplace e de uma rede social, ainda tenta capturar a recorrência que existe nos negócios de ‘software as a service’.

A BPool não é o primeiro empreendimento dos fundadores.

Em 2007, Sirotsky criou a 3yz, uma agência de marketing digital vendida para o grupo britânico WPP nove anos depois. Já Prianti fundou a Router, a agência adquirida pela também britânica Iris Worldwide em 2013.

10718 9e3394d9 0843 ca48 d6e8 4643b6f012beOs dois se conheceram durante um MBA na Berlin School of Creative Leadership no ano passado. Por coincidência, ambos queriam começar um novo negócio e descobriram que estavam com a mesma ideia: um marketplace B2B voltado à indústria criativa.

Para tirar a BPool do papel, a dupla trouxe mais dois sócios: Patrick Ferraro, como head de tecnologia, e Davi Cury, responsável pela relação com os parceiros criativos.

A startup recebeu ainda o aporte de investidores-anjo com vasta experiência no setor: Orlando Lopes, que foi vp de mídia da Unilever e CEO da Kantar Ibope; Orlando Marques, ex-CEO da Publicis no Brasil; Inez Murad, ex-vp de marketing da Brasil Kirin e do Walmart; e Nadia Quaglia, uma ex-diretora do Carrefour e da Unilever.

A plataforma, que ainda está em fase beta, vai ganhar novas funcionalidades. A BPool quer incluir mais três verticais.

A primeira será a de eventos: o cliente vai descrever o perfil de evento que deseja organizar e a verba disponível, e a plataforma vai determinar quais parceiros cadastrados conseguiriam aproveitar melhor aqueles recursos.

A segunda será um serviço de curadoria para os pedidos de patrocínio que as grandes marcas recebem. A BPool vai levar em conta os princípios e valores do cliente e ajudar a filtrar os patrocínios que fazem mais sentido para ele. Haverá ainda um módulo que permite que as próprias agências enviem ideias para as marcas de forma proativa.

“Muita gente fala que o mercado publicitário está acabando”, diz Sirotsky. “Não vemos assim. O que achamos é que ele está mudando completamente: está pulverizando cada vez mais e queremos responder a essa nova dinâmica.”