O CEO da Equifax, Mark Begor, disse estar confiante que sua oferta pela Boa Vista será aceita pelos acionistas da empresa.
Um dos maiores bureaus de crédito dos EUA, a Equifax está oferecendo R$ 8 por ação da Boa Vista Serviços, tentando tirar a companhia da Bolsa com um prêmio de 70%.
“Acreditamos que nossa oferta é bem atraente. Como você sabe, no início da semana passada a ação estava negociando perto de R$ 4, então nossa oferta seria quase um prêmio de 2x. É muito, muito forte,” o CEO disse ao Brazil Journal. “E quando você soma a participação de 9,9% da Equifax mais os 30% da ACSP, você já tem 40% do capital apoiando a transação.”
Mark disse que a transação faz parte da visão da Equifax de crescer em mercados internacionais– onde as taxas de crescimento são em média o dobro dos EUA.
“O Brasil tem uma grande base de consumidores, uma classe média muito grande e em crescimento, e uma parcela grande da população desbancarizada que está entrando agora para o mercado formal de crédito,” disse o CEO.
Segundo ele, a aquisição da Boa Vista transformaria o Brasil em um dos cinco maiores mercados da Equifax, respondendo por 10% das operações internacionais da empresa.
A Equifax já opera em 24 países fora dos Estados Unidos, que juntos devem faturar US$ 1,25 bilhão este ano. A companhia inteira tem receita de US$ 5,1 bi.
Abaixo, os principais trechos da entrevista.
Nesta oferta pela Boa Vista, há sinergias entre as duas empresas?
Temos investido nos últimos cinco anos numa nova tecnologia de cloud e data stack. Investimos US$ 1,5 bilhão nos últimos cinco anos. Temos a tecnologia e as capacidades líderes na indústria. Vamos levar tudo isso para a Boa Vista.
Além disso, temos um número extenso de produtos e soluções em risco de crédito, marketing, identidade e fraude. E vamos levar todos esses produtos que temos ao redor do mundo para a Boa Vista para ajudá-los a acelerar seu crescimento e, mais importante, para eles terem novas soluções para seus clientes no Brasil, seja um banco, fintech ou seguradora… Queremos levar toda a suíte de produtos da Equifax para eles.
O fato relevante da Boa Vista diz que vocês já têm o apoio da Associação Comercial de São Paulo…
Já temos… eles são acionistas da Boa Vista acho que há uns 30 anos já. Desenvolvemos uma forte parceria com a ACSP e temos conversado com eles no último ano sobre nosso interesse em comprar a Boa Vista e temos o apoio deles. Então, entre a participação da Equifax, de cerca de 10%, e a participação de 30% da ACSP, já temos perto de 40% do capital apoiando a transação.
Como parte da transação, esperamos que a ACSP continue como um acionista com cerca de 20% da companhia no longo prazo. Nós gostamos dessa ideia, e eles gostam.
Então, quando a transação for concluída e tornarmos a empresa privada, a Equifax vai ter 80% da companhia e a ACSP terá 20%. E como parte da transação, a ACSP vai entrar em um acordo de 15 anos com a Boa Vista envolvendo os dados que eles fornecem. Hoje, a associação entrega dados únicos de seus associados apenas para a Boa Vista, e vamos ter esse acordo de 15 anos em que o dado continuará exclusivo da Boa Vista, e eles não vão poder competir com a Boa Vista.
Quando vocês esperam que a transação seja concluída?
Já temos a aprovação do conselho da Equifax, mas como é uma delistagem, que é algo mais complexo, achamos que deve ser concluída no segundo trimestre do ano que vem.
Você espera enfrentar concorrência na oferta, já que o TMG tem 21% do capital e não aparece no fato relevante publicado pela Boa Vista?
Conhecemos o TMG muito bem. Somos parceiros deles na Boa Vista há muitos anos. Esperamos ganhar o apoio deles e acreditamos que nossa oferta é bem atraente a R$ 8 por ação. Como você sabe, no início da semana passada a ação estava negociando perto de R$ 4, então nossa oferta seria quase um prêmio de 2x. É muito, muito forte.
Como o nível do câmbio no Brasil contribuiu para sua decisão de fazer essa oferta agora, e quão preocupado você está com os rumos do Brasil hoje?
Estamos no Brasil há 11 anos. E queremos continuar no Brasil por mais 20, 30, 40, 50 anos. A Equifax tem 124 anos e está em muitos mercados há 30 anos. Somos um investidor de longo prazo.
O que nos atrai na Boa Vista é o mercado brasileiro. O Brasil tem uma base grande de consumidores, uma classe média muito grande e em crescimento, e uma parcela grande da população desbancarizada que está entrando agora para o mercado formal de crédito. É um mercado de crescimento muito rápido do qual a Equifax quer fazer parte.
É o mesmo motivo pelo qual estamos em mercados como Argentina, Peru, Chile e Costa Rica. Há alguns meses compramos o bureau de crédito líder da República Dominicana, por exemplo, para aumentar nossa presença. Há sete anos compramos o bureau de crédito líder na Austrália. Estamos focados em crescer nosso footprint internacional.
Quanto do seu negócio é EUA e quanto é o resto do mundo?
O negócio internacional da Equifax é 25% do faturamento e está crescendo mais rápido que o nosso negócio core nos EUA. Esse é um dos motivos porque estamos tão interessados em expansão internacional.
Nos últimos 24 meses, fizemos 12 aquisições, investindo US$ 3,5 bilhões. Usamos M&As como forma de entrar em novos mercados como Brasil, República Dominicana, Austrália, ou para adicionar novas capacidades. Sabemos como fazer M&As e conhecemos a Boa Vista muito bem. Temos representantes nossos no conselho.
O Paulino Barros [um brasileiro que foi executivo sênior da Equifax antes de se aposentar] está no conselho da Boa Vista há três anos, e nosso plano é que ele se torne o executive chairman depois que concluirmos a aquisição. Ele vai ficar em São Paulo trabalhando com o time executivo para fazer as integrações e levar todos os nossos produtos para a Boa Vista. Ele conhece bem a empresa e conhece bem o Brasil.
Você disse que os mercados internacionais crescem mais que os EUA. Como esses mercados têm crescido?
Os mercados fora dos EUA vão crescer acima de 10% este ano. E a América Latina cresce mais do que esses 10%. Já os EUA crescem metade dessa taxa. Por isso os mercados internacionais são tão importantes para a gente.
A possível recessão nos EUA que todo mundo está prevendo, como ela afeta seu negócio? Numa recessão vocês fazem mais negócios porque as pessoas estão mais sensíveis à qualidade de crédito, ou fazem menos negócios porque as pessoas compram menos?
É uma combinação dessas duas coisas. O negócio de dados da Equifax é bem resiliente em momentos de crise. Estamos de olho se vai ter uma recessão em 2023 ou 2024 mas, mesmo com essa perspectiva, temos muita segurança na força financeira da Equifax e estamos muito energizados em relação à oportunidade da Boa Vista.
Qual vai ser a importância do Brasil na operação da Equifax se a aquisição da Boa Vista for concluída?
O Brasil seria em torno de 10% das nossas operações internacionais, um mercado muito relevante… Já seria um dos nossos cinco maiores mercados fora dos EUA, e nosso objetivo é que se torne o maior mercado internacional da Equifax.