Piorando uma situação que já estava difícil, a crise está começando a bater nas empresas de mídia tradicionais.

Em meio à queda na receita de publicidade, grandes grupos de comunicação começaram a se mobilizar nos últimos dias para aplicar às MPs 927 e 936, que permitem a redução de até 70% do salário e jornada e a postergação do pagamento do FGTS.

Hoje à tarde, o Grupo Estado, dono do Estadão, fez uma reunião com seus mais de 250 jornalistas para anunciar uma redução de salário de 25% pelos próximos três meses.

Na reunião, a direção do grupo disse que se a proposta não for aceita pelo sindicato, as negociações serão individuais com cada funcionário; caso o funcionário não aceite, ele não terá a estabilidade de seis meses garantida. 

Como a MP prevê uma contrapartida do governo, que deve liberar o seguro desemprego para os funcionários que tiverem seus salários reduzidos, a redução efetiva seria de 8% para quem ganha até R$ 2,5 mil, de 15% para quem ganha até R$ 5 mil, e de 20% para quem ganha até R$ 10 mil. 

A decisão do jornal vem na esteira de outros movimentos semelhantes.

No mês passado, a EPTV — afiliada da Globo em Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos — e o SBT de Araçatuba anunciaram que aplicarão a redução salarial a partir de maio. 

A RedeTV também levou a seus funcionários a proposta de corte de 50% no salário e na jornada pelos próximos três meses.

Paulo Zocchi, diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP), disse ao Brazil Journal que os jornalistas da emissora se reuniram hoje para debater a proposta e recusaram.

“Foi uma decisão unânime e num clima de muita tristeza e revolta,” diz Zocchi. “É um momento de trabalho ainda mais intenso da nossa categoria, que também foi considerada atividade essencial na crise.”

As medidas vem num momento em que a audiência dos grandes veículos têm batido recordes históricos em meio à busca da população por informações sobre o coronavírus.  O problema: a receita com publicidade não tem acompanhado.

Neste cenário, o sindicato patronal que representa as editoras Globo e Abril e os jornais Folha de S. Paulo e Estadão entre outros enviou ao sindicato dos trabalhadores uma proposta de adendo à convenção coletiva que permitiria que as empresas de mídia apliquem todos os aspectos das MPs, como a suspensão de trabalho e redução dos salários em até 70%.

Amanhã de manhã, os jornalistas destes veículos se reunirão virtualmente para deliberar sobre a proposta.