A desvalorização do yuan que o Banco Central da China fez esta noite foi um pequeno passo para a China e uma grande dor de cabeça para o resto do mundo.
Para começar, o yuan mais fraco está detonando os preços das commodities ao redor do mundo.
O petróleo cai 3% esta manhã, e as ações das mineradoras globais estão assim: Vale cai 7,2% em Nova York, BHP cai 5,6% e Rio Tinto, 4,2%.
De forma simples: ao desvalorizar sua moeda, Beijing tornou as commodities mais caras para as indústrias chinesas que dependem de matéria-prima.
Agora, se as empresas chinesas quiserem preservar suas margens de lucro, terão que barganhar com as Vales e as Fibrias do mundo por preços menores — daí a queda nas ações destas companhias hoje.
Mas o movimento tem implicações mais dramáticas para a economia global, afetando outras moedas e empresas com grande exposição à China, da Apple à General Motors.
A mudança de ontem à noite “parece ser mais do que um ‘one-off’ [um evento isolado], na verdade pode ser uma mudança de regime,” diz um gestor macro.
Ao desvalorizar sua moeda, a China se torna um pouco mais competitiva do que seus concorrentes asiáticos, potencialmente ganhando espaço em mercados internacionais de países como a Coréia, a Tailândia e a Indonésia.
Isso deve detonar um fenômeno conhecido nos mercados como ‘desvalorização competitiva,’ em que todo mundo tenta desvalorizar um pouco para preservar (ou ganhar mercado) nas suas exportações.
Da última vez que a China fez algo semelhante, as coisas acabaram mal. Em 1994, a China desvalorizou o yuan em 50%. Três anos depois, a Tailândia — que tinha um regime de câmbio fixo — foi forçada a desvalorizar sua moeda, detonando a chamada ‘crise asiática’ de 1997. Era uma época sangrenta, que sacudiu os mercados no mundo todo e culminou com a desvalorização do próprio Real em 1999.
Nos últimos três anos, o yuan teve uma valorização expressiva contra todas as outras moedas emergentes. O dólar foi de R$1,70 para R$3,50, e o rand sul-africano, por dólar, saiu de 8,00 para 12,70, mas o yuan não saiu do lugar.
Agora, a China usa de uma ferramenta para turbinar suas exportações e coloca a pressão em países como o Brasil, contribuindo mais um elemento para nossa tempestade perfeita, que inclui recessão, crise política, e o ‘risco Federal Reserve’ .
“Isso dá a impressão de que a China jogou a toalha em sua tentativa de mudar seu modelo econômico exportador para um mais focado no consumo interno,” diz um gestor. “No fundo, trata-se de uma corrida para ver quem consegue empurrar mais mercadoria num mundo que está com muita capacidade ociosa. Isso nunca acaba bem.”