A ação da Ambipar despenca mais de 10% hoje depois que a empresa lançou um follow-on que pode chegar a R$ 1 bilhão — metade de seu market cap atual.

A companhia de gestão de resíduos e resposta a emergências disse que a oferta-base será de R$ 560 milhões, e que o controlador da empresa, Tércio Borlenghi Junior, já se comprometeu a colocar esse montante para garantir a transação.

Caso haja demanda, a empresa exercerá o hot issue, que pode dobrar o tamanho da oferta. A intenção da Ambipar, no entanto, é fazer uma oferta de até R$ 915 milhões, dado que acima desse montante o controlador seria diluído. 

Tércio tem hoje 61% do capital da empresa.

A ação da Ambipar abriu em queda com os investidores reagindo à diluição relevante do follow-on. Quem optar por não acompanhar terá sua participação diluída em cerca de 21% na oferta-base e em 42% caso o hot issue seja exercido na totalidade.

O CFO Thiago Costa disse ao Brazil Journal que a Ambipar vai usar 100% dos recursos para desalavancar seu balanço, pré-pagando algumas dívidas. A companhia se alavancou depois de uma agenda agressiva de aquisições nos últimos dois anos e, com os juros elevados, os custos financeiros ficaram altos demais.

Desde o IPO, a companhia fez mais de 40 aquisições, basicamente financiadas com recursos de terceiros. A alavancagem está em 2,9x EBITDA, com uma dívida líquida de R$ 4,2 bilhões.

A necessidade de fazer o follow-on agora tem a ver também com o fato da companhia ter parte de suas dívidas (R$ 2,2 bilhões) com um covenant extremamente restritivo, de 2,75x EBITDA até o final deste ano. 

“Eles tinham duas alternativas. Ou recompravam essas emissões todas, e eles conseguiriam, porque tinham dinheiro em caixa para isso, ou faziam um aumento de capital,” disse um gestor comprado no papel. “Mas colocar dinheiro agora ajuda muito porque eles conseguem manter uma estrutura de capital boa mesmo depois de pré-pagar essas dívidas.”

Para esse gestor, o follow-on é muito bom para o credor porque “mostra o comprometimento do controlador num momento difícil.”
Já para o acionista, “é razoável, porque resolve a alavancagem, mas vem num momento ruim de mercado e com uma diluição alta.”

Segundo o CFO, a Ambipar vai reduzir sua alavancagem para 2,4x com a oferta-base e para 2x caso o hot issue seja exercido.

Thiago disse que o plano da Ambipar é entrar agora num novo ciclo, em que a empresa vai parar de fazer M&As e focar na desalavancagem e na captura de mais sinergias das aquisições que já fez. 

“As sinergias óbvias a gente já capturou todas. A ideia agora é focar nas não óbvias. Temos que replicar o que fizemos muito bem no Brasil nessas outras geografias,” disse ele. 

Para o gestor, a principal discussão na Ambipar é a alocação de capital. “A dúvida é como a empresa vai melhorar os seus ROICs, principalmente na operação de gestão de resíduos,” disse ele. “Lá, eles têm gastado muito com transações que não tem crescido no mesmo ritmo e que não estão remunerando o suficiente para pagar as dívidas.” 

Ele nota ainda que a compra da Witt O’Briens, uma empresa de consultoria de emergências nos Estados Unidos, foi feita num múltiplo muito alto e num momento ruim do mercado americano. “Não parece ser estruturalmente ruim. É um business bom. Mas a aquisição foi cara e os resultados têm vindo fracos pelo momento do mercado.”

Thiago discorda. 

Para ele, as aquisições seguem o que foi planejado na época das transações e “nossas margens e ROICs comprovam isso.”

Ele diz ainda que os resultados da Witt O’Briens estão dentro do esperado. “Quando fizemos o business plan dessa aquisição já foi olhando para o longo prazo, porque é um negócio que tem essas características.”

O pricing da oferta está marcado para o dia 31 deste mês.

Os coordenadores são BTG Pactual, Bradesco BBI, Itaú BBA, Bank of America, Santander e UBS BB.