A Ambev sofreu o downgrade de dois grandes bancos nas últimas 24 horas — com o sellside começando a modelar um 2025 mais desafiador para a gigante de bebidas, principalmente pelo cenário macro.

A ação da companhia recua 2,5% no início da tarde e acumula uma queda de 18% nos últimos doze meses. A Ambev agora vale R$ 172 bilhões na B3. 

O Santander cortou sua recomendação de ‘compra’ para ‘neutro’ e reduziu seu preço-alvo para a ação de R$ 16 para R$ 12. 

O Citi também foi para ‘neutro’ e cortou o preço-alvo de R$ 14,50 para R$ 11,80.

BTG, XP e Bradesco também publicaram relatórios ontem reafirmando um ‘neutro’ no papel e citando os desafios macro. 

Para o Santander, o problema da Ambev tem nome e sobrenome: inflação de custos. O banco disse que ela deve ditar o tom daqui para frente, dado o aumento nos custos das embalagens e a depreciação do real. 

“Estimamos que o custo unitário da companhia para a divisão de cervejas Brasil, que normalmente é anunciado junto com o quarto trimestre, vai apontar para um aumento de 8% ano contra ano,” escreveram os analistas Guilherme Palhares e Laura Hirata. 

Além disso, a Heineken já estaria prestes a colocar em operação sua nova fábrica, o que deve expandir sua capacidade em 10%, disseram os analistas.

O Santander disse ainda que os volumes de cerveja no Brasil devem crescer 1% em 2025, e que a Ambev pode ser beneficiada pela situação da Petrópolis, que entrou em recuperação judicial e deve reduzir sua produção para focar nas plantas mais rentáveis. 

“Ainda que isso possa ser um upside potencial para a Ambev, esperamos que os clientes adicionais sejam divididos com a Heineken, que está fazendo o ramp up de sua nova planta de 5 milhões de hectolitros.”

O banco disse ainda que espera que as margens recuem em todas as unidades de negócio dada a depreciação do real e o aumento dos preços do alumínio e dos custos com mão de obra. Para os refrigerantes, a estimativa do banco é que a inflação de custos atinja os dois dígitos este ano. 

O Citi também citou a inflação de custos como um vilão para a Ambev. 

Segundo o banco, apesar da execução “impressionante” da companhia nos últimos cinco anos — com inovações como BEEZ e o Zé Delivery, uma estratégia bem sucedida de apostar num portfólio premium, e um CAGR de EBITDA de 10% — “os desafios estão se amontoando.”

“Volumes fracos, ganhos de preço modestos, e a pressão de custos pelo câmbio e as tendências das commodities são ventos contra,” disse o banco. “Além disso, as crescentes pressões competitivas, pela Heineken e Petrópolis, dificultam o repasse de preços.”

Nas contas do Citi, a Ambev está negociando a 13x seu lucro estimado para este ano, um desconto de 12% em relação aos peers globais. “Mas o desconto atual da ação não deve ser um catalisador suficiente.”

O setor de bebidas não é o único que tem sido afetado pelas pressões inflacionárias. Ontem, o Brazil Journal mostrou como a inflação está começando a impactar a construção civil.