Em 2018, Rafael Bagolin era sócio de um escritório de advocacia no interior do Rio Grande do Sul quando se viu diante de um problema operacional: muitos clientes queriam revisar seus empréstimos bancários depois da alta dos juros — mas o processo levava meses.
“Tínhamos que provar que o contrato estava 50% acima da taxa de juros média do Banco Central e depois recalcular o contrato nos mesmos parâmetros, usando a taxa média do BC,” Rafael disse ao Brazil Journal. “Para isso, tínhamos que contratar um contador, que cobrava uns R$ 1.000 por cada processo e levava duas semanas para cada um.”
Como acontece com todas as complexidades que fazem o Brasil o inferno do empreendedor, o resultado foi uma fila de mais de 50 processos na mesa de Rafael, que começou a pensar em formas de acelerar o bonde.
A solução encontrada: automatizar o cálculo com um sistema desenvolvido internamente.
“Era um sistema simples, uma automação que criamos para facilitar a nossa vida. Mas quando botamos no ar saiu de 2 semanas para 2 minutos o tempo para cada processo, e o custo caiu de R$ 1.000 para zero — e vários outros advogados começaram a pedir para usar,” lembra ele.
A demanda inesperada fez o advogado transformar o sistema num produto, dando origem à Jusfy, um software as a service (SaaS) que está tentando se posicionar como o ‘sistema operacional’ do advogado.
Hoje, a automação do cálculo de contratos bancários é apenas uma de dezenas de soluções que a startup oferece a advogados.
Uma outra ferramenta calcula os valores devidos de pensão alimentícia — um processo que também costuma ser demorado — e outra faz uma busca de jurisprudência em todos os tribunais do Brasil. Há ainda a JusFile, um grande banco de petições com modelos prontos de ações para o advogado usar como base no processo.
“O advogado gasta 50% do tempo com atividades que não tem a ver com estudar a lei, entrar com uma ação ou estar numa audiência,” disse o fundador. “A gente ajuda ele com essas atividades secundárias.”
A startup cobra uma assinatura única que dá acesso a toda a plataforma. O preço varia de R$ 59/mês até R$ 97/mês, dependendo da quantidade de consultas permitidas.
Em dois anos de vida, a startup conquistou mais de 4.500 assinantes e fechou o mês passado com uma receita recorrente de R$ 300 mil/mês.
Agora, a Jusfy acaba de levantar uma rodada de US$ 1,3 milhão liderada pelo SaaSholic e que teve a participação da Norte Ventures, e da Harvard Alumni Angels of Brazil.
A rodada também teve a participação de investidores-anjo como Daniel Arbix, o diretor jurídico do Google, Ricardo Goldfarb, da família controladora da Lojas Marisa, João Costa, fundador da Kovi, Alexandre Dubugras, da Alude, e de Victor Lazarte, da Wildlife.
Com a rodada, Rafael espera chegar a 40.000 usuários nos próximos 18 meses, quando a startup deve estar faturando R$ 2 milhões por mês.
“Em cinco anos queremos nos transformar no sistema operacional do advogado, com todas as ferramentas que eles precisam dentro da plataforma,” disse o CEO.
O sonho é grande, mas o mercado endereçável também.
Rafael calcula que existam 1,3 milhão de advogados no Brasil — um número que deve subir para 2 milhões no final de 2024, considerando os estudantes que devem se formar até lá, segundo dados do MEC e OAB.
“Com as ferramentas que temos hoje estimamos nosso mercado endereçável em 300 mil advogados. Mas conforme formos adicionando outras soluções esse número vai aumentar.”