Horas depois da Amazon Brasil colocar no ar seu marketplace de eletrônicos, gestores de investimentos e consumidores estão fazendo críticas à estreia mais aguardada do varejo brasileiro.
Para eles, a montanha pariu um rato.
O Brazil Journal comparou os preços dos produtos promocionais destacados pela Amazon em seu comunicado à imprensa e itens que aparecem no site como ‘ofertas de lançamento’. Na maior parte deles, de fato a diferença – quando existe – não é muito grande em relação à concorrência.
Um smartphone Samsung J5 Pro de 32GB sai por R$ 979. Na Americanas.com, o mesmo produto aparece apenas por R$ 1049. E, se o consumidor estiver disposto a pagar à vista, o valor cai para R$ 944,49.
Há preços semelhantes em sites como Fast Shop, Ponto Frio, Submarino e Casas Bahia.
Um smartphone Moto G5 Plus, da Motorola, vendido a R$ 1.076, pode ser encontrado por menos de R$ 1.000 em sites como Saraiva, Kabum, Americanas.com, Carrefour e Walmart.
Uma câmera da Fujifilm, anunciada por R$ 899 na Amazon, sai por R$ 749 no Wal-Mart.com. No Mercado Livre, é possível encontrá-la por R$ 890.
Um outro modelo de câmera mais simples da mesma marca, que é vendido por R$ 269,90 na Amazon, sai por R$ 273,60 no Magazine Luiza.
No Twitter, um internauta (@PvreHaavok) disse que consultou os preços de um notebook Acer: R$ 1.899 no Walmart e R$ 2.099 na Amazon. “Tem que chegar seguro, não, tem que chegar quebrando tudo e com descontos incríveis”, completa.
Entre os preços vantajosos, um controle de X-Box: R$ 219, contra R$ 269 nos melhores preços da concorrência.
Além das ofertas frustrantes, há preços nitidamente errados em alguns produtos. Uma câmera da Fujifilm destacada na homepage de eletrônicos durante a madrugada aparecia por R$ 102.900 – ou módicas dez parcelas de R$ 10.290. O erro, aparentemente corrigido agora pela manhã, se repetia ao clicar no link.
“Meu analista passou umas duas horas assim que acordou vendo todo o site e fazendo comparações de ofertas. Não achou nada demais. O Submarino em geral estava com preços melhores nos principais produtos… e quando a Amazon ganhava, era por margem bem estreita, tipo R$10-20 em produtos de ticket de mais de R$1.000,” disse um gestor do Rio. “Não está nada disruptivo, pelo menos por enquanto.”
Mas esta ‘decepção’ do mercado tem que ser qualificada.
Num marketplace, o preço é definido pelo vendedor, e não pela empresa — um motivo pelo qual, na ausência de conveniências e serviços associados, os marketplaces tendem à comoditização. Se a Amazon pode sofrer uma crítica, a mais justa talvez seja a ausência de incentivos claros para consumidores (na forma de frete grátis, por exemplo) e vendedores (na forma de uma comissão menor).
Diz outro gestor: “A gente vinha conversando com vendedores, pessoal de logística e sabia que eles não vinham com força agora num primeiro momento. Eles estão no approach de tatear, aprender. Eles não tem solução logística e enquanto não tem solução logística não vão ganhar mercado. Mas eles estão indo atrás disso, contratando gente de logística de fullfilment. Uma hora vão vir.”
Depois de sofrerem quedas de cerca de 20% com o medo da Amazon, os outros varejistas começaram a reagir na Bolsa — um reconhecimento do mercado de que o impacto da Amazom sbre a concorrência não se dará da noite para o dia.
Magazine Luiza, Via Varejo e B2W sobem cerca de 5% depois de duas horas de pregão. Na Nasdaq, o Mercado Livre abriu em alta de 3%.
A Merrill Lynch ontem à noite aumentou seu preço-alvo para Via Varejo de R$ 25 para R$ 28, mas o analista Bob Ford sequer fez referência à Amazon, focando apenas na queda dos juros no Brasil e seu impacto sobre a empresa. (Ford também aumentou o preço-alvo do Grupo Pão de Açúcar de R$70 para R$ 82, Cia Hering de R$ 21 para R$ 32, e Hypermarcas de R$ 33 para R$ 39.)
(Matéria modificada às 12h57, para corrigir a informação de que a oferta de R$ 979 por um Samsung Galaxy J5 Pro anunciada em comunicado à imprensa não estava mais disponível).