Um grupo de 130 lojistas do shopping Iguatemi Faria Lima, em São Paulo, está se articulando para não pagar o aluguel de junho e ameaça até paralisar as operações caso o shopping não diminua o valor.
O boleto vence dia 1/7.
A movimentação espontânea, organizada num grupo de Whatsapp, começou depois que diversos lojistas tentaram negociar — sem sucesso — com a administração do shopping.
O cerne da celeuma: em certos casos, o Iguatemi está cobrando o chamado ‘aluguel mínimo’ em junho com 20% de desconto, mas os lojistas afirmam estar vendendo apenas de 10% a 15% do que faziam no mesmo mês do ano passado (e podendo trabalhar apenas 4 horas por dia, em vez das 12 horas regulares).
“O mercado voltou o pior possível. Deu uma animada nos primeiros dias, mas depois piorou muito,” um dos lojistas disse ao Brazil Journal.
Tipicamente, os shoppings cobram ou um aluguel mínimo ou um percentual de 10% a 15% das vendas — o que for maior.
“O meu aluguel mínimo normal é de cerca de R$ 18 mil. O Iguatemi está cobrando o pro rata dos 19 dias que o shopping ficou aberto neste mês e, em cima disso, dando um desconto de apenas 20%,” disse este lojista. “Todo meu faturamento vai acabar indo pro aluguel.”
Os lojistas querem que o Iguatemi zere o fundo de promoção, aumente o desconto do condomínio (hoje em 15%) e cobre um aluguel proporcional ao faturamento do mês, em vez do aluguel mínimo.
Segundo eles, alguns shoppings, como o Bourbon, já adotaram essa política. O Bourbon isentou o aluguel mínimo de junho e deu um desconto de 90% no fundo de promoção para os lojistas de todos os seus malls.
Executivos do Iguatemi disseram ao Brazil Journal que a companhia está tentando ser o mais justa possível.
Lembraram que — ao contrário dos donos de shoppings nos EUA, que apenas diferiram o aluguel dentro do ano — a indústria de shoppings brasileira isentou os meses de abril e maio, “um caso único de concessões no País.”
Eles disseram que as negociações estão sendo feitas caso a caso, com descontos maiores aos lojistas que estão sofrendo mais.
O shopping disse que não está divulgando a política de descontos porque um lojista que recebe menos desconto que outro “muitas vezes não sabe ou não lembra que o outro sofreu mais do que ele.”
“Como não sabemos como vai ser a retomada, estamos nos reservando o direito de ter uma política mês a mês,” disse um executivo.
O Iguatemi Faria Lima fechou as portas em 19 de março, depois do decreto da prefeitura. Algumas semanas depois, reabriu para operações de delivery, cobrando dos lojistas apenas um percentual sobre essas vendas, além do condomínio.
Mas, quando reabriu ao público, em 11 de junho, o shopping voltou a cobrar o valor normal com descontos caso a caso.
O Brazil Journal teve acesso às conversas do grupo de Whatsapp. Um dos lojistas chegou a sugerir fazer uma ‘greve’, fechando todas as lojas por um dia, com os donos ficando em pé na porta. A proposta recebeu apoio de outros participantes.
Outros lojistas disseram que não vão pagar o boleto deste mês e preferem judicializar a disputa.
Um lojista que está há mais de cinco anos no shopping diz que a convivência entre lojistas e administração sempre foi pacífica.
“Eles são duros de negociar, mas são leais com quem é leal com eles,” disse.
A rebelião no Iguatemi é o ápice de uma queda de braço que começou desde o início da pandemia e gira em torno de uma questão simples: como dividir o prejuízo da crise?
“No último balanço divulgado, o Iguatemi teve uma margem líquida de 8%, e tem caixa pra sobreviver. Os lojistas estão tendo margem negativa e não tem acesso a crédito barato,” diz o lojista. “O Iguatemi não está entendendo a situação real… o certo seria eles dividirem o prejuízo com a gente.”