Há mais ou menos um mês, o telefone tocou na sede da Andrade Gutierrez.

Do outro lado da linha estavam representantes de José João “Juca” Abdalla, um dos homens mais ricos do Brasil e um dos maiores investidores do setor elétrico.

Para se ter ideia do mega-watt-império que Abdalla amealhou, ele é dono de 6% das ações ON da Eletrobrás, 10% da Engie (ex-Tractebel) e, na Cemig, 10% das PNs e 5% das ONs.

Era essa última posição que ensejava aquela ligação.

Abdalla sabia que a Andrade precisava fazer caixa — e fazer caixa rápido.  

Ele tinha feito as contas:  a Andrade é dona de 84 milhões de ações ON da Cemig (ações sem muita liquidez).  

Já Abdalla é dono de cerca de 62 milhões de PNs e 22 milhões de ONs — ou seja, somando as duas classes, ele tem as mesmas 84 milhões de ações que a Andrade tem na Cemig.

Abdalla, conhecido por preferir ações com direito a voto, tinha uma proposta: trocar suas PNs pelas ONs da Andrade, na proporção de 1 para 1, e ainda voltar um troco para a empreiteira. 

Com as PNs na mão, a Andrade poderia ir a mercado e vender a posição com mais facilidade, pois o mercado cobraria um deságio menor.

O bilionário e a empreiteira fecharam o acordo de boca, mas, dias depois, a Andrade ligou com uma proposta diferente:  como o Estado de Minas, sócio da Andrade na Cemig, provavelmente iria demorar a aprovar a saída da Andrade do bloco de controle (o que era necessário para liberar as ações para a troca com Juca), por que Juca não antecipava o dinheiro à empreiteira, tendo as ONs como lastro, e em troca de uma remuneração fixa?

Temendo que o lastro ficasse preso de alguma forma, Abdalla não gostou da ideia, e o assunto morreu.

No dia 7, no meio do feriado, o Estado de Minas aprovou a saída da Andrade do bloco de controle, e no dia 8, a Reuters reportou as conversas entre as duas partes.

As ações da Cemig subiram desde então, mas o futuro dessas conversas tem implicações para os papeis no curto prazo.

Se a empreiteira e Abdalla voltarem ao acordo original e fizerem a troca, a pressão de venda — conhecida no mercado como ‘overhang’ — pesará sobre as PNs.

Se Abdalla não quiser mais conversa, a pressão de venda será nas ONs, já que a Andrade terá que organizar a venda de seu bloco na Bolsa.