A Totvs está investindo quase meio bilhão de reais para comprar a Supplier, uma fintech de crédito B2B, em sua primeira aquisição desde o follow-on de R$ 1 bilhão concluído em maio e num movimento de alocação de capital que agradou o mercado. 

A ação da Totvs negociava em alta de 5,8% perto do fechamento. No ano, os papéis sobem 116%. 

A compra marca o primeiro grande passo da companhia para se tornar uma ‘techfin’,  um discurso que vem sendo encampado pelo CEO Dennis Herszkowicz, o ex-executivo da Linx que assumiu o comando em novembro. 

A ideia é alavancar a capilaridade e o grande volume de dados que passam pelos sistemas de ERP da Totvs em direção a serviços financeiros, abrindo uma nova avenida de faturamento.

A Totvs pagou R$ 455 milhões por 88,8% da Supplier, que tinha como acionistas o Pátria e a Ourinvest, além dos fundadores Mauro Wulkan e Eduardo Wagner, que seguirão na gestão e são donos dos 11,2% restantes. 

Fundada há 15 anos, a Supplier dá crédito para mais de 100 mil empresas que têm relações com grandes indústrias e distribuidores, financiando principalmente seu capital de giro, além de oferecer outros serviços.

A Supplier integra seu sistema às plataformas de ERP dessas grandes empresas e estabelece um limite de crédito pré-aprovado para cada cliente com base no histórico de transação entre as partes.

O cliente coloca o pedido de compra a prazo junto ao fornecedor, e a Supplier antecipa esses recebíveis – cedendo o risco para FIDCs que carregam a carteira e o risco de crédito. A companhia fica com um take rate em cada transação.

A Supplier já originou R$ 6,5 bilhões em crédito, tem uma carteira ativa de R$ 1 bilhão e deve fechar o ano com receita de R$ 220 milhões (contra R$ 138 milhões no ano passado). 

A expectativa é que a aquisição alavanque mais o negócio, na medida em que a Totvs poderá integrar os dados financeiros de seus clientes de ERP com a plataforma da provedora de crédito (com o devido consentimento do cliente). 

Com isso, a avaliação de risco de crédito será mais apurada, beneficiando toda a cadeia de valor – o que é especialmente relevante para PMEs dado que o baixo acesso a dados por parte dos bancos torna o crédito mais caro.

Numa empresa historicamente calejada por decisões questionáveis de alocação de capital, como a malfadada compra da Bematech, desta vez o mercado concorda com o potencial de geração de valor.

A Totvs pagou um múltiplo de cerca de 15 vezes o lucro da Supplier ao fim do ano passado, muito abaixo das 30 vezes a que a própria Totvs é negociada em bolsa. 

“A Supplier é um negócio lucrativo por si só e dentro da Totvs deve valer ainda muito mais”, diz um gestor comprado na companhia. “A depender das premissas, só com essa compra a relação entre preço/lucro da Totvs, que hoje está em 30 vezes, pode cair para um patamar de 20 a 25 vezes.”

No ano passado, a Supplier lucrou R$ 32 milhões – ou 25% do lucro da Totvs, de R$ 137 milhões.

Numa ampla apresentação feita hoje a analistas de sellside, a Totvs reforçou ainda as outras frentes de negócio que pretende perseguir na linha de serviços financeiros. 

A companhia já tem uma parceria com a Rede pela qual oferece meios de pagamento e antecipação de recebíveis a seus clientes do varejo. 

Mas pretende expandir a oferta desses serviços para outros setores onde a concorrência é menor, estabelecendo parcerias ou comprando empresas voltadas, por exemplo, para educação, ajudando a melhorar a concessão de crédito estudantil. 

Outra via a ser explorada é a de crédito consignado, atrelando a cobrança aos holerites para dar mais assertividade à concessão. (Mais de um terço da folha de pagamentos do País passa por sistemas da Totvs.)