A Priner — um spinoff da Mills focado em manutenção industrial no setor de óleo e gás — está encontrando demanda forte com investidores locais numa oferta que marca a abertura do mercado de IPOs para ‘micro caps’. 

No meio da faixa indicativa, que vai de R$ 10 a R$ 13, a Priner levantaria R$ 200 milhões, a um valuation (post-money) de R$ 435 milhões.

O roadshow começou na semana passada e até sexta já havia demanda de investidores institucionais com o book quase fechado, segundo fontes ouvidas pelo Brazil Journal. 

A captação está sendo feita apenas no Brasil e o único coordenador é a XP Investimentos. (O varejo deve ficar com cerca de 30% da oferta).

No meio da faixa, a ação da Priner está sendo vendida a um múltiplo EV/EBITDA de 6 vezes para 2020. Para efeito de comparação, a Mills e a Julio Simões negociam a mais de 10 vezes. Peers globais como Alfa Laval, Metso e Andritz negociam a 11,5 x, 9,5 x e 6,1 x. 

“Como a empresa vai ter uma liquidez baixa é natural que ela venha com um desconto de múltiplos e valuation,” diz um gestor.  

A oferta base será primária, mas caso haja demanda pelo greenshoe (o lote suplementar que o vendedor coloca a disposição dos bancos) haverá também uma secundária de R$ 30 milhões. 

A Priner nasceu como um spinoff da Mills, que aluga equipamentos para a construção e outras indústrias e decidiu cindir sua divisão de manutenção industrial (que na época vinha crescendo consideravelmente menos que o restante da empresa). Em 2013, um fundo de private equity da Leblon Equities comprou 100% do negócio pagando R$ 102 milhões.

Hoje, a Leblon é dona de 84% das ações. Tobias Cepelowicz, um investidor de referência nas Lojas Americanas e dono da Petroserv, tem 15%; e Tulio Cintra, o CEO da empresa, tem o 1% restante. Dependendo do lote adicional, a participação dos acionistas atuais cairá para entre 50% a 54% do capital.  

A Priner opera no mercado de manutenção de plantas industriais, conhecido no jargão do setor como APIIL (acesso, pintura, isolamento, inspeção e limpeza). Todas as plantas industriais e plataformas de petróleo precisam executar alguns serviços que são críticos para seu bom funcionamento e que ajudam mitigar o risco de acidentes. A Priner oferece toda a infra e os serviços para que isso seja possível.

Hoje, a empresa atua apenas em acesso, pintura e isolamento. A ideia é usar um terço dos recursos da oferta para entrar nos outros dois segmentos, por meio de aquisições. O restante será usado para a compra de equipamentos e capital de giro. 

“É uma empresa que já aguentou muito porrada na pior época do Brasil e que pode virar uma ‘cash cow’. São serviços mandatórios, o que torna a receita mais resiliente e recorrente,” diz outro gestor que participou da oferta. 

Segundo investidores que participaram do roadshow, os controladores têm vendido a tese de que a Priner vai crescer nos próximos anos estimulada por três vetores. 

O primeiro é a demanda reprimida por investimentos de manutenção, já que nos últimos três anos mais da metade das indústrias brasileiras investiu em manuntenção menos do que a depreciação. O segundo vetor é a expansão de capacidade das indústrias; e o terceiro, as vendas de ativos da Petrobras. 

“Quando a Petrobras vende uma plataforma, o novo dono em geral aumenta violentamente os gastos com manutenção,” diz o gestor. “São ativos que não eram core para a Petro e que ela vinha sub-investindo há muito tempo. Quando entra o comprador, ele quer aumentar a produtividade do campo e para isso precisa aumentar os gastos com manutenção.”

O principal risco do investimento é o crescimento da economia não ocorrer, ou ocorrer numa força bem menor que a prevista. O outro risco é a baixa liquidez do papel. 

Hoje, a Priner é a terceira empresa do setor com um share de 4,5%. As primeiras são a RIP, que pertence à alemã Kaefer, e a Monsertec (ambas com uma participação de 15% cada). Com o IPO, o plano dos controladores é assumir a liderança do mercado, que movimenta mais de R$ 8 bi por ano no Brasil.

No ano passado, a Priner faturou cerca de R$ 350 milhões, com um EBITDA de R$ 30 mi. Para 2020, a expectativa é de uma receita de R$ 400 mi com um EBITDA de R$ 45 a R$ 50 milhões.