No auge do boom, com Copa, Olimpíadas e ‘marolinha’, a Mills chegou a valer R$ 4,2 bilhões na Bolsa, e era provavelmente a empresa que mais representava todo o potencial do País.

Mas o Brasil implodiu — e a Mills foi junto.

Com a recessão profunda e os canteiros de obras completamente desertos, o valor de mercado da empresa — que aluga equipamentos para a construção e outras indústrias — mergulhou para um décimo, e a Mills flertou de perto com a recuperação judicial.

Agora, há sinais de que o negócio esteja num novo ponto de inflexão.

De outubro até hoje, a ação da Mills já subiu 250%, mas, para alguns gestores, a disparada é só o aquecimento para uma maratona que pode durar anos.

Hoje, a Mills ainda trabalha com uma taxa de utilização de seus equipamentos de apenas 53%. Mas mesmo neste cenário, a companhia tem conseguido aumentar o preço dos novos contratos — uma alta de 27% no quarto trimestre e mais 25% no primeiro tri deste ano.

“Se a Mills aumentar os preços em mais 74% até 2022 e subir sua taxa de utilização para 70% — o que acho bem factível — estamos falando de uma empresa de R$ 527 milhões de EBITDA,” diz um gestor que investe no papel. “Assumindo um múltiplo conservador para esse momento de ciclo, de 8 vezes, ela valeria R$ 4 bilhões.”

A projeção é menos agressiva do que parece: mesmo se a Mills subir os preços em 74% nos próximos três anos, eles ainda estariam abaixo dos preços nominais praticados no auge do boom brasileiro, em 2013.

Hoje, a Mills negocia a seu ‘valor de reposição’ — basicamente, quanto custaria fazer uma nova empresa do zero — e vale pouco mais de R$ 1,8 bilhão na Bolsa.


A Mills opera duas unidades de negócio: a de ‘rental’, de aluguel de plataformas aéreas, que responde por 75% da receita, e a de ‘construção’, que oferece projetos de engenharia e equipamentos para grandes obras de infraestrutura.

No negócio de aluguel de plataformas, a Mills se tornou líder disparada de mercado com a aquisição da Solaris, concluída há quatro meses. Juntas, as duas empresas somam mais de 9 mil plataformas aéreas, um market share de 30%. A Trimak, o segundo player, tem menos de 4% de participação.

Nos últimos anos, foi essa divisão que manteve a Mills em pé, em meio a uma queda brutal das receitas de ‘construção’. 

Parte dessa resiliência tem origem numa decisão estratégica tomada pela empresa.

Até 2014, o negócio de plataformas dependia totalmente da construção civil, que parou com a crise. Foi quando a Mills decidiu mudar o foco e diversificar seu portfólio de clientes. Hoje, mais de 65% da receita de ‘rental’ vem de empresas como Ambev e Via Varejo, que usam as plataformas, por exemplo, para pequenos reparos ou para mover produtos em seus centros de distribuição.

Com a retomada da economia, o aluguel de plataformas aéreas deve crescer, impulsionado pela maior demanda dos clientes industriais e por uma expansão natural do próprio mercado: no Brasil existem apenas 30 mil plataformas aéreas, frente a mais de 800 mil nos Estados Unidos.

Já o negócio de ‘construção’ da Mills  cuja taxa de utilização está em apenas 35% — deve ganhar impulso na medida em que novas obras de infraestrutura saiam do papel. Nos bons tempos, o segmento chegou a fazer cerca de R$ 200 milhões de EBITDA. Ano passado, fez um EBITDA negativo de R$ 53 milhões.

Recentemente, a empresa conseguiu um contrato para a obra da ponte sobre o Rio Guaíba, que vai usar suas treliças-lançadeiras (para lançar as vigas que vão na horizontal) e o chamado ‘escoramento’, usado para construir os pilares.

Fundada em 1952 pela família Nacht, a Mills nasceu focada no aluguel de andaimes e guindastes. A empresa participou de grandes obras de infraestrutura como a construção de Brasília, a hidrelétrica de Itaipu e a Ponte Rio-Niterói.

Dada sua geração de caixa atual, a Mills parece cara, negociando a um múltiplo EV/EBITDA de 11,5 vezes.  Mas se as projeções de crescimento de utilização e EBITDA de um gestor estiverem certas, o múltiplo cai para 6 vezes em 2020, 3,8 vezes em 2021, e 3,2 vezes em 2022.

O endividamento da companhia também não assusta mais.  A Mills, que já chegou a ter R$ 600 milhões de dívida bruta, gerou caixa, vendeu equipamentos e, na conta de gestores, já deve ter quase zerado sua dívida líquida no segundo trimestre, que ainda não foi reportado.

Há dois riscos visíveis de um investimento na Mills.  O primeiro é o PIB do Governo Bolsonaro se provar um PIBinho como o de Dilma Rousseff.  Se a economia não aquecer, as premissas dos comprados acabarão se revelando demasiadamente otimistas — mas o investidor terá problemas muito mais graves com que se preocupar.

O outro risco é um aumento na concorrência no aluguel de plataformas — mas, mesmo assim, dadas a ociosidade atual e os preços ainda pouco estimulantes, este cenário só deve começar a se materializar daqui a dois anos, pelo menos.

Os maiores acionistas da Mills são a família Nacht, que possui 24% da empresa, e os antigos acionistas da Solaris  a Sullair argentina e o fundo de private equity Southern Cross — que ficaram com 29% do capital como pagamento pela aquisição.

As gestoras Axxon, Fama Investimentos e Leblon Equities aparecem como os maiores acionistas do free float.