‘Arriba, abajo, al centro y adentro’:  o México está prestes a erguer um brinde — na cara de Donald Trump.

O IPO da José Cuervo, a fabricante da tequila mais vendida do mundo, deve sair amanhã no topo da faixa de preço pretendida pela companhia, o que dará à empresa um valor de mercado de US$5 bilhões.

Até hoje à noite, a demanda era cinco vezes maior que a oferta.

Controlada pela família Beckmann, descendentes de Don José Antonio de Cuervo y Valdes, a Cuervo está abraçando o mercado de ações para poder crescer, seja exportando mais tequila para novos mercados, seja por aquisições no mercado de destilados.  Depois da oferta, 15% da empresa estarão nas mãos de investidores.
A primeira garrafa do ‘Vino Mezcal de Tequila de José Cuervo’ surgiu em 1795 — bom, não temos certeza de que foi numa garrafa — depois que José María Guadalupe de Cuervo, filho de Don José Antonio, recebeu uma licença do Rei Carlos IV da Espanha para produzir tequila comercialmente. Desde então, a tequila deixa o mundo ‘borracho’.

O sucesso do IPO — apesar de todos os danos econômicos já impostos ao México pela posição lunático-beligerante de Trump — prova que a José Cuervo é uma empresa singular.

Assim como os vinhos DOC (‘denominazione di origine controllata’), a tequila só recebe este nome quando é produzida em alguns estados mexicanos, a área de ‘apelação de origem’.  Esta área inclui principalmente o estado de Jalisco, onde fica a cidade de Tequila, perto da capital, Guadalajara.

Se não é feita ali, não é tequila, e isto explica em parte que o domicílio da empresa seja o México, apesar de 80% de suas vendas serem feitas em dólares, em outros países.

A Cuervo é dona de milhares de hectares de terras em que se cultiva o agave-azul, a planta que é a matéria-prima da tequila e que precisa amadurecer de cinco a dez anos antes de ser colhida.

Dada a escala e a especificidade das terras, é praticamente impossível um concorrente montar uma outra José Cuervo a partir do zero. 

A Diageo, que tinha um acordo de distribuição conjunta com a José Cuervo nos EUA, tentou comprar a companhia mexicana diversas vezes, mas os dois lados não chegaram a um acordo.

 
Desde então, a Diageo tem se dedicado a construir um portfólio de marcas premium, o nicho de mercado que mais cresce:  comprou a Don Julio (da própria José Cuervo), a Peligroso (feita na Califórnia…) e a nanica DeLeón, esta última em sociedade com o rapper Sean Combs.  (A parceria entre a Diageo e Combs já deu certo antes: em 2007, eles investiram na marca Cîroc, e em apenas seis anos catapultaram as vendas da marca de 50.000 engradados/ano para mais de 2 milhões.)  

Nos EUA, a tequila é a segunda bebida destilada que mais cresce. Entre 2009 e 2015, seu crescimento médio foi de 5,3%, depois do whiskey irlandês (17,9%) e à frente do whiskey americano (4,5%) e da vodca (3,3%).

No mercado global de destilados, é a bebida com mais potencial de crescimento.  O share da tequila é de apenas 0,9%, comparado aos 15,2% da vodca, os 12,5% do whiskey e os 4,5% do rum.

Ao analisar a Cuervo, os investidores a comparam com três empresas semelhantes listadas em Bolsa: a gigante Diageo, que fabrica a vodca Smirnoff e a cerveja Guinness; a Campari, que vale €5,5 bilhões na bolsa de Milão; e a Pernod Ricard.

 
O Temasek, fundo soberando de Singapura, se comprometeu a comprar 20% da oferta, desde que o preço fique dentro da faixa, de 30 a 34 pesos/ação.

Baseado no interesse pesado dos investidores locais e internacionais, a ação da Cuervo deve sair a 25 vezes seu lucro estimado para este ano, ou a 14,3 vezes EV/EBITDA, múltiplos em linha com as empresas comparáveis.

 
A companhia pode sofrer se Trump criar mesmo um imposto de importação de produtos mexicanos.  Há, também, o risco cambial:  um peso mexicano mais forte significa um resultado mais fraco, já que a maior parte da receita da empresa é em dólar.