A Suzano anunciou agora à noite que comprou os ativos de tissue da Kimberly-Clark na América Latina, passando a operar as marcas Neve, de papel higiênico, e Kleenex, de lenços de papel.

O principal ativo da transação é a fábrica de tissue da Kimberly em Mogi das Cruzes, com capacidade de produção de 130 mil toneladas/ano – o que eleva em 76% a capacidade da Suzano no segmento.

Em julho, a Suzano já havia anunciado a construção de uma nova fábrica de tissue no Espírito Santo, que ficará pronta em dois anos e adicionará mais 60 mil toneladas.

A aquisição de hoje vai em linha com a estratégia da Suzano de aumentar sua participação em produtos derivados de celulose, reduzindo sua exposição à volatilidade do preço da commodity.  

“É uma fonte de receita bem mais estável e ligada a um consumo que é completamente inelástico,” disse um analista do buyside. “São produtos que as pessoas têm que comprar todo mês, independente de crise, da situação que for.”

A Suzano não divulgou o valor da aquisição, alegando não haver materialidade para sua alavancagem e endividamento, mas o mercado estima que ela tenha pago algo em torno de R$ 1,5 bilhão, o que representaria menos de 2% do market cap da companhia, de mais de R$ 70 bilhões. 

Considerando esse valor, a alavancagem da empresa subiria de 2,3x para 2,4x EBITDA nas contas de um analista.  “Considerando o que eles estão gerando de caixa por conta do preço alto da celulose, realmente não deve ter relevância alguma.”

A Suzano entrou no mercado de tissue em 2018 com foco no Norte e Nordeste do País.

Quatro anos depois, já tem um market share de 66% e 28% nesses mercados, respectivamente, operando com as marcas Mimmo e Max Pure. Ambas são produzidas em três fábricas: Belém do Pará, Mucuri, na Bahia, e Imperatriz, no Maranhão. 

Dentre as marcas detidas pela Kimberly, a transação envolve apenas a marca Neve. As demais marcas globais usadas hoje pela Kimberly-Clark Brasil – incluindo a Kleenex – serão licenciadas pela Suzano “por um prazo determinado.” A empresa não abriu a duração do contrato.

O anúncio da aquisição vem no mesmo dia em que o JP Morgan deu um upgrade no papel da Suzano dizendo que o preço da celulose – que está no high histórico – vai descer “de paraquedas, e não em queda livre,” com uma dinâmica ainda apertada de oferta e demanda e atrasos no aumento da capacidade.

O banco colocou um preço-alvo de R$ 67 para o papel, que fechou o dia em R$ 51,40, alta de 3,5%. 

O JP Morgan assessorou a Kimberly-Clark. A Suzano não usou assessores.