A Petrobras atingiu na semana passada o valor de mercado recorde de R$ 525 bilhões e tem hoje a melhor saúde financeira de sua história.
O que pode dar errado daqui pra frente? A única kriptonita que pode enfraquecer essa Super Petrobras seria a volta das discussões ideológicas em torno das decisões de investimento.
Seja qual for o candidato que vencer as eleições presidenciais de domingo, é preciso blindar a Petrobras desse tipo de discussão. A história mostra que sempre que empresas de petróleo foram geridas pelo critério da ideologia, o resultado é muito ruim não só para a empresa como para toda a sociedade.
Há inúmeros casos de países que tiveram booms petrolíferos e acabaram desperdiçando essa riqueza, sofrendo um aumento da concentração da renda, falta de democracia e pobreza na maior parte da sociedade.
Este fenômeno é conhecido como a maldição do petróleo.
Todos se lembram que, em 2015, a Petrobras era uma empresa tecnicamente quebrada. Sua dívida de mais de US$ 100 bilhões e sua alavancagem (dívida líquida/ EBITDA) de quase 5x faziam dela a petroleira mais endividada do mundo.
A Petrobras chegou a essa situação caótica por uma perda total de disciplina de capital, explicada por uma política de preço de combustíveis subsidiada e investimentos em ativos que só olhavam para a taxa de retorno político.
Para a empresa voltar a ter disciplina, reduzindo a dívida para U$ 60 bilhões e a alavancagem para em torno de 1,4x, inúmeras medidas tiveram que ser tomadas.
A partir do Governo Temer, com um aprofundamento no Governo Bolsonaro, foi implantada uma política de preços seguindo a paridade internacional (PPI). Houve um esforço para redução de custos, um plano de desinvestimentos inteligente, e investimentos apenas onde havia taxas de retorno adequadas a uma empresa de petróleo.
Do ponto de vista da governança, a aprovação da Lei das Estatais permitiu um Estatuto Social que deu autonomia à gestão, blindando-a contra as intervenções políticas.
O resultado de tudo isso está no valor da companhia, que hoje possui indicadores econômico-financeiros semelhantes aos seus pares da indústria de petróleo global.
Ainda há upside?
O atual portfólio da Petrobras nos dá a certeza de que o valor da empresa ainda pode crescer muito mais. Basta considerar o potencial do pré-sal, hoje a principal fronteira de exploração de petróleo offshore do mundo.
Suas vantagens competitivas são os campos de alta produção (um simples poço do pré-sal produz em média 60.000 barris/dia; e não há, fora do Brasil, poços offshore que produzam tanto) e custos de exploração cada vez menores (um lifting cost de apenas US$ 3,40). Hoje, 75% do petróleo brasileiro já vem do pré-sal, e esse percentual ainda vai aumentar.
Outro dado ilustra o potencial do pré-sal: hoje, o Brasil produz 3 milhões de barris/dia; daqui a seis anos, só o campo de Búzios, majoritariamente da Petrobras, vai produzir 2 milhões de barris/dia.
Outra vantagem: o petróleo do pré-sal tem baixo teor de enxofre quando comparado ao petróleo venezuelano ou ao óleo pesado produzido em muitos países. Com as demandas de ESG, nosso petróleo deve cada vez mais ganhar mercado dos concorrentes, dado que sua queima leva a menores emissões de carbono.
Com o balanço da empresa em ordem e todo esse potencial de mercado, as ações da Petrobras são um investimento cada vez mais promissor. Basta que a ideologia não prevaleça sobre a lógica empresarial para que a maldição do petróleo não acometa o nosso Brasil.
Independente de quem ganhar a eleição, precisamos andar para frente. Quem dirige olhando pelo retrovisor sempre bate com o carro.
Adriano Pires é fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).