A Stone reportou mais um resultado acima do consenso, com uma alta expressiva da receita líquida e uma melhora na rentabilidade, ajudada por ganhos de eficiência e pela reprecificação do portfólio.

O resultado do quarto tri — o último do CEO Thiago Piau, que está indo para o board — é reflexo do turnaround que a Stone começou no final de 2021 com o mantra “retomar rentabilidade, sem abrir mão de crescimento.”

No terceiro tri, a companhia já havia mostrado melhoras relevantes no P&L

No quarto tri, a receita líquida da Stone subiu 44,5% ano contra ano para R$ 2,7 bilhões, enquanto o EBITDA ajustado veio em R$ 1,27 bilhão, praticamente em linha com o consenso do sellside.

O EBT (o lucro antes de impostos) e o lucro líquido, no entanto, vieram bem acima das projeções e do guidance da própria Stone.

O EBT ajustado ficou em R$ 316 milhões, em comparação ao guidance de R$ 250 milhões e aos R$ 220 milhões que o mercado projetava.

Já o lucro líquido ajustado (que exclui algumas despesas com stock options e a marcação a mercado do investimento no Inter) veio em R$ 231 milhões, 20% acima do consenso. 

Os números reportados hoje são resultado “da nossa estratégia de precificação da oferta, em linha com novo cenário de juros do Brasil; do maior engajamento dos clientes com nossas soluções de banking, o que gerou uma monetização adicional; e dos nossos ganhos de eficiência operacional,” Piau disse ao Brazil Journal. 

No trimestre, o volume transacionado pelos clientes PME da Stone aumentou 23% ano contra ano para R$ 81,9 bilhões – acima do range de R$ 78-79 bilhões que ela havia passado como guidance.

O TPV cresceu duas vezes acima da indústria – que cresceu 12%, segundo a Abecs – com a Stone ganhando share no segmento. 

A alta teve a ver com o aumento da base de clientes, mas também com o fato da Stone estar penetrando clientes maiores nesse segmento, o que tem feito o TPV médio por cliente subir. 

O take rate (a comissão cobrada dos lojistas) desse segmento ficou praticamente flat em relação ao terceiro tri, em 2,21%. 

“Ele ficou estável, mas tem que considerar que o quarto tri tem mais transações com cartão de débito, onde o take rate é menor,” disse o CEO. “Por conta dessa sazonalidade, esperamos que o take rate do primeiro tri aumente.”

A geração de caixa operacional ficou em R$ 385 milhões – a mais forte do ano – elevando a geração de caixa de 2022 para R$ 1,2 bilhão. Para o CEO de saída, a Stone deve continuar gerando caixa acima de R$ 1 bi em 2023, “um nível capaz de suportar os investimentos.”

O quarto tri também marcou o desinvestimento total da Stone no Inter, que levantou R$ 214 milhões.

Piau disse que o investimento foi feito com uma visão estratégica que fazia sentido na época, “mas executamos mal o processo, tanto que o resultado foi bem negativo,” disse. “E a mudança macro exigiu muito foco das duas empresas no core, o que fez a gente decidir vender.”

Como guidance para o primeiro tri, a companhia espera receita de R$ 2,6 bilhões, um TPV em PMEs de R$ 77 bilhões a R$ 78 bilhões, e um EBT ajustado de R$ 265 milhões. 

Piau disse que o foco da Stone este ano será ganhar eficiência com disciplina de opex, crescer nas PMEs, gerar caixa operacional, e expandir sua plataforma de banking com o relançamento dos produtos de crédito.

Em meados de 2021, a Stone paralisou seu negócio de crédito depois de sofrer perdas relevantes com a operação. Piau disse que ao longo do ano passado a companhia se dedicou a reconstruir o time e a criar novos sistemas de concessão e score de crédito. 

Segundo ele, a empresa já começou a oferecer crédito (para capital de giro e antecipação de cartões) para um pool de clientes selecionados, num modelo de teste, e pretende escalar o produto no segundo tri, “mas de forma bem conservadora, até pelo cenário macro.” 

Questionado sobre as lições que a empresa aprendeu com os erros em crédito, Piau disse que a Stone tinha construído um produto “muito dependente da gestão das garantias da registradora.” 

“Agora, o nosso sistema é baseado nisso, mas faz um assessment mais global das garantias e do dono da empresa,” disse ele. “Além disso, vimos que precisávamos de capabilities melhores no nosso time para termos mais experiência em crédito e não ‘inventar a roda’ em práticas já consolidadas. O processo de renegociação de crédito também tem que ser muito dinâmico. Antes tínhamos um produto muito engessado.” 

O novo CEO, Pedro Zinner, assume o comando em abril. 

Na Nasdaq, a ação da Stone fechou o dia a US$ 9,09, em alta de 5,8%, com a companhia valendo US$ 2,8 bi.