Em meio à proliferação das casas de análise independentes, Luciana Seabra construiu um diferencial em seus três anos na Empiricus.
Aliando didatismo a um networking que começou a ser construído ainda quando era repórter no Valor Econômico, conseguiu traduzir o mundo dos fundos de investimento para as pessoas físicas — fechando um gap importante de comunicação num mundo em que os aportes mínimos com frequência começam em R$ 1 mil.
Mais: sempre manteve um tom informal, mas sóbrio, sem nunca prometer retornos mirabolantes na publicidade de suas recomendações.
Agora, ela está lançando sua própria casa de análise, a Spiti — do grego ‘casa’ — numa sociedade com a XP, com uma equipe que recomendará também outros ativos como renda fixa, Bolsa e investimentos globais.
“A pessoa física é muito diferente do que muitos gestores pensam”, diz Luciana. “Muitas vezes são mais sofisticados que os institucionais, que tem travas regulatórias, como fundos de pensão.”
Ela deixou a sociedade com a Empiricus em agosto por divergências com Felipe Miranda, um dos principais sócios da casa.
Depois de conversar com diversos potenciais parceiros, Luciana fechou com a XP sob a garantia prevista em contrato de que poderá recomendar produtos disponíveis em quaisquer plataformas, não só os da gestora de Guilherme Benchimol.
“Na parte de decisões de investimento, a XP não toca”, diz Luciana. “Mas é um negócio que, para ser legal, precisa de investimentos intensivos em tecnologia e em marketing, e é aí que a XP entra.”
Um squad que trabalha dentro da própria XP está desenvolvendo toda a tecnologia da área logada para os relatórios, vídeos e recomendações. A ideia é ter uma ferramenta que entenda o perfil do cliente e quais os produtos que ele mais costuma a acessar, uma experiência parecida com a do Spotify para música.
Para compor a equipe, Luciana está trazendo profissionais que construíram a carreira atendendo clientes institucionais.
Para renda fixa, a Spiti trouxe Guilherme Codonhotto, analista sênior com passagem pela Porto Seguro e Sul América. Carolina Oliveira, que selecionava fundos para o fundo de pensão da Light, será o braço-direito de Luciana para as recomendações voltadas para fundos de investimentos.
A Spiti já tem mais duas contratações engatilhadas: um analista sênior para cobrir Bolsa, com viés de finanças comportamentais, além de uma profissional que sempre atendeu institucionais que buscavam investimentos fora do Brasil para liderar uma área de investimentos globais.
A diversificação de investimentos das pessoas físicas para fora do Brasil deve ser uma das bandeiras da Spiti. Hoje, boa parte dos produtos está voltado para investidores qualificados — com mais de R$ 1 milhão investidos — e muitas vezes, a trava não é da regulação e sim dos próprios gestores que ainda não querem lidar com a pessoa física.
“Hoje o investidor está concentrado em Brasil, o que nos torna muito vulneráveis a eventos como o Joesley Day, por exemplo”, diz. “Vamos olhar não só ações, mas como o investidor de varejo que não necessariamente é qualificado consegue acessar produtos ou fundos específicos lá fora”.
Luciana, que foi uma das principais vozes pela redução das taxas abusivas cobradas por alguns fundos de renda fixa de bancos, já tem uma nova batalha — agora uma que deve pegar no calo também dos gestores independentes.
“Os multimercados estão começando a ficar caros demais: o 2 com 20 a esse juro tão baixo só faz sentido para fundo de alta volatilidade, que corre risco de verdade”, diz.