As redes de fast fashion Shein e a Forever 21 fecharam uma parceria para unir suas operações — um casamento inesperado entre um monstro do ecommerce e uma varejista tradicional que deve causar reflexão e trazer implicações para o modelo de negócios dos grandes players do vestuário.

Pelo acordo, a chinesa Shein vai comprar cerca de um terço do SPARC Group, a joint venture entre a Simon Property, a maior proprietária de shoppings dos EUA, e a Authentic Brands – a empresa de gerenciamento de marcas que opera a Forever 21 e outras seis marcas: Aéropostale, Nautica, Brooks Brothers, Lucky Brand, Eddie Bauer e Reebok.

Por sua vez, o SPARC também terá uma participação minoritária na Shein, que foi avaliada em US$ 66 bilhões numa rodada em maio – mas as partes não detalharam os termos financeiros ou societários.

O acordo abre novos caminhos para as duas empresas, que caíram no gosto do público jovem por vender roupas e acessórios a preços baixos.

A Forever 21 poderá oferecer sua moda feminina na plataforma da Shein, acessando seus mais de 150 milhões de clientes.

Já a Shein poderá sair do mundo digital e operar dentro das lojas Forever 21 num modelo ‘store-in-store’ –  aumentando sua presença nos shoppings dos EUA.

A Shein também pretende testar novos formatos, como por exemplo permitir que seus clientes devolvam mercadorias na Forever 21, que tem 560 lojas no mundo – 414 nos EUA.

O vice-presidente executivo da Shein, Donald Tang, disse ao Wall Street Journal que o crescimento da Shein dependerá de sua capacidade de colocar mais marcas de terceiros em sua plataforma. “Não podemos fabricar tudo que vendemos.”

No Itaú BBA, o analista Thiago Macruz chamou atenção para o fato de o negócio sinalizar que uma varejista digital “disruptiva” está reconhecendo a relevância do comércio tradicional. “Isso pode ser um sinal positivo para as empresas de vestuário sob nossa cobertura.”

Por outro lado, se a Shein fechar acordo com alguma varejista no Brasil, isso definitivamente tornaria o ambiente competitivo mais desafiador para as empresas que não tiverem sido escolhidas, disse Macruz.

Jamie Salter, o fundador e CEO da Authentic Brands, disse ao WSJ que no futuro a parceria com a Shein poderá incluir outras marcas do SPARC, “à medida em que a Shein se fortaleça mais como um marketplace”. No início do ano, a Shein lançou um marketplace de venda de produtos de terceiros para competir com a Amazon e o Alibaba.

A parceria com a Forever 21 vem no momento em que a Shein prepara seu IPO nos EUA. A empresa vem sendo alvo de críticas e questionamentos – desde acusações de violação da lei antitruste americana à utilização de trabalho forçado ou mal pago, além de lotar aterros sanitários com seu produto super barato. A empresa nega tudo.

E em meio à crescente tensão geopolítica entre EUA e China, a Shein começou a se distanciar do seu país natal.  Em 2021, a Shein mudou sua sede para Singapura, e não vende mais na China.

As vendas de US$ 23 bilhões em 2022 foram puxadas por EUA, Europa e Brasil.

No início do ano, a Shein levantou US$ 2 bilhões numa rodada em que foi avaliada em US$ 66 bilhões – um terço a menos do que no ano anterior.

A Forever 21, fundada pela família Chang, de Los Angeles, estava em recuperação judicial quando o SPARC Group fez uma oferta para comprá-la, em fevereiro de 2020.

A Simon e a Brookfield eram os dois maiores proprietários de shoppings onde a Forever 21 era inquilina.

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